Todos os artigos: Teoria

A “esquerda” pró-imperialista

“As ideias da classe dominante são, a todo o tempo, as ideias dominantes. Isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é ao mesmo tempo a sua força intelectual dominante”, K. Marx in A ideologia Alemã, 1845
Claro que apenas uma leitura de todo o capítulo “Oposição das perspectivas materialista e idealista” pode ajudar-nos a ter uma perfeita compreensão da extensão do significado desta afirmação de Marx, bem como a compreender as suas implicações históricas e a sua abordagem dialéctica, mas deixemos isso para o leitor mais afoito da obra e tentemos partir daqui para uma abordagem do panorama político e ideológico actual, numa tentativa de aprofundar uma descrição da “esquerda de direita” que ao longo do nosso tempo sempre cumpre com afinco o papel que o dono lhe destina.

Ler mais

P: prostituição

P: prostituição

A prostituição não é trabalho: um trabalhador vende a sua força de trabalho e não o seu corpo. Uma mulher prostituída pode até estar inconsciente e ainda assim ser vendida porque aquilo que é comprado é o acesso ao seu corpo, que é usado como um objecto. Ora, ser usado não é trabalhar e os objectos não trabalham. Uma demonstração prática desta tese é que, ao contrário de qualquer outro trabalho, a mulher prostituída não ganha valor à medida que ganha experiência: os consumidores de prostituição preferem usar as mulheres e as meninas mais novas e menos experientes por estarem, tal como objectos, “menos usadas”. A prostituição não pode ser sequer considerada uma profissão (é falso que seja “a mais antiga”) porque, para realmente sê-lo, teria de ser compatível com a segurança e a dignidade das “profissionais”. Quando a taxa de mortalidade é 40 vezes superior à média, quando 80% das mulheres prostituídas é espancada regularmente, 92% quer sair, 68% apresenta sintomas de stress pós-traumático e 22% pensa em suicidar-se, não se trata de uma “profissão”, mas de um inferno.

Ler mais

O: operário

O: operário

Já não há operários? O proletariado é uma categoria ultrapassada? Qual a diferença entre o trabalhador, o operário e o proletário? A discussão é demasiado extensa e as categorias económicas que dela derivam exigiram muitas mais entradas de verbetes neste dicionário, mas eis as noções básicas:

Ler mais

Prostituição, academia e género: a armadilha triplica no feminismo contemporâneo

PARTE II

Para combater as causas materiais da opressão das mulheres são necessárias ferramentas para as compreender, mas para compreender as causas da opressão das mulheres é necessário definir a categoria mulheres. Jamais poderíamos compreender os fenómenos que oprimem algo se esse algo constitui uma entidade nublosa e ampla. Quando um químico estuda a molécula de hidrogénio (H2), ele não pensa em incluir no seu estudo a molécula de água (H2O) só por esta conter na sua composição dois átomos de hidrogénio. Para o químico a categoria molécula de hidrogénio é estável, fechada e material: inclui somente dois átomos de hidrogénio e mais nenhum outro. O químico sabe, mais do que por intuição, que duas coisas parecidas não são duas coisas iguais.

Ler mais

Prostituição, academia e género: a armadilha triplica no feminismo contemporâneo

PARTE I 

Quando comecei a escrever este texto pensei em chamar-lhe, como título, algo do tipo: «As armadilhas obscurantistas do pós-modernismo académico e o seu papel nada inocente na alienação de movimentos sociais como o feminismo contemporâneo tendo como zonas de guerra os temas prostituição e género». Às tantas, senti que corria o risco de se tornar um título demasiado longo. Sendo este o meu primeiro contributo no Manifesto74, não quis parecer aquilo que sou: uma mulher comunista zangada e snobe. Optei por uma solução mais sintética, mas será sobre tudo isto que tratarão os meus cinco cêntimos para a discussão.

Ler mais

N: natureza humana

N: natureza humana

Uma das vacas sagradas da ideologia dominante é a ideia de que a humanidade está condenada pela sua própria natureza a ser para sempre como já é hoje: egoísta e  individualista, pelo que qualquer projecto de sociedade assente noutros valores e contrária a estas características estaria, portanto, condenada ao fracasso.

Ler mais

M: Materialismo e idealismo

M: Materialismo e idealismo

O idealismo é o processo de pensamento assente no primado das ideias sobre a natureza. Ao contrário dos materialistas, que vêem na natureza a base sem a qual as ideias não existem (não há ideias sem cérebro, não há cérebro sem células, não há células sem átomos, não há átomos sem matéria), os idealistas garantem que a verdade não existe a não ser dentro dos nossos cérebros pelo que as abstracções só se podem entender em função de outras abstracções. É desta forma que os idealistas desligam a verdade da realidade social, histórica e económica, recorrendo ao espírito, à moral e aos impulsos para explicar o mundo. Os materialistas, em sentido inverso, procuram na natureza, nas relações económicas e no contexto social a explicação para a cultura, para a religião e para a ideologia.

Ler mais

L: lugar de fala

L: lugar de fala

O conceito de lugar de fala parte de duas premissas correctas para chegar a uma conclusão errada. Por um lado, é necessário e desejável que os actores sociais se representem a si mesmos: é claro que devem ser as mulheres a encabeçar as suas próprias lutas; ninguém duvida de que não há ninguém melhor que um operário para falar sobre a luta dos operários e é óbvio que os homossexuais não precisam que os heterossexuais sejam os porta-vozes das suas reivindicações. Por outro lado, também é certo que a sociedade de classes atribui às “verdades” de diferentes actores sociais valores distintos.

Ler mais