Vais deixar que te enganem de novo?
Já não há palavras para descrever a prestação de Assunção Esteves enquanto presidente da Assembleia da República. Nunca ninguém que tenha presidido àquela magna casa se mostrara tão desastrado e tão “barulhento” numa posição que exigiria recato, prudência, sentido de responsabilidade e salvaguarda dos mais elementares princípios éticos. Poderíamos falar apenas das declarações inacreditáveis dos “inconseguimentos frustracionais”, ou até da sua moderação parlamentar trapalhona, equívoca (basta ver os debates), muitas vezes “salva” pela competência dos coadjuvantes, de resto tudo semi-escondido atrás de rasgados sorrisos atirados à força às bancadas parlamentares. Mas é no seu debilitado sentido institucional, na falta de consciência histórica, que muitas vezes se revela a sua inabilidade extrema para as funções elevadas que desempenha.
O teatro de marionetes é uma arte fantástica, quer do ponto de vista da sua fruição, quer do ponto de vista das diversas técnicas que envolve. Na verdade, o teatro de marionetas é uma forma de expressão que envolve diversas outras, desde o fabrico das magníficas peças que constituem visualmente a personagem – a marioneta – à manipulação da personagem e, muitas vezes, à interpretação de vários papéis pelo mesmo manipulador. Quando o pano abre, o espectador nunca sabe sequer quantas pessoas estão na verdade envolvidas na produção e execução de cada peça, mas antecipa um certo deslumbramento com a habitual escuridão que envolve o pequeno palco.
A estranha dualidade de como se continua a publicar ciência no mundo parece escapar à atenção da maioria da comunidade que teima em não deixar para trás um sistema arquitectado para o controlo e para o lucro. Mesmo havendo duras críticas por parte de muitos investigadores, alguns com peso mediático por grandes feitos na ciência premiados até pelos maiores galardões das suas áreas como o Nobel ou a medalha Fields, e as suas insistências em recusar publicar nas editoras que olham para a edição e publicação científica como um negócio, a discussão está longe de ter a atenção que deveria ter, principalmente por parte dos intervenientes públicos responsáveis pelo financiamento da ciência e tecnologia em geral.
O partido político do capital (PS-PPD-PSD-CDS-PP) prepara-se para nos próximos cinco anos impor ao país cortes no valor de mais sete mil milhões de euros. As vítimas: a saúde, a educação, os salários, as pensões e as reformas dos trabalhadores. Os vitimários: os banqueiros, os patrões e os latifundiários. E enquanto a economia do país dos ricos recupera, a economia do resto do país afunda-se na perpetuação dos sacrifícios e na destruição de Abril. Como dizia há meses um dirigente do PSD, o país está melhor, os portugueses é que vivem pior. Não nos esqueçamos de que não há um país mas dois, o de quem trabalha e o de quem explora e, sendo que o primeiro não precisa do segundo mas o segundo precisa do primeiro, a guerra civil (na acepção leninista) é inevitável. Daqui a dez ou a cem anos.
Na vila de Quatropães cada um vive como pode. Aqui, quando se sai de casa a molhar os pés no mar, não se vive, sobrevive-se. No calor da revolução ocorrida há 40 anos, Quatropães cresceu em tudo menos nas fronteiras. Havia trabalho e pão e cultura; escolas e hospitais; mais fábricas e exércitos de mulheres e homens, com os filhos pela mão à espera do toque do sino que chamava para a entrada da escola, a que se seguia o toque de entrada na fábrica.
Nesta altura de crise de valores – daqueles que se transaccionam na bolsa – tudo serve de pretexto para mais umas privatizaçõezinhas. Há pouco dinheiro nos cofres do Estado e ao que parece, vender empresas lucrativas por umas bagatelas pode injectar nas contas públicas o suficiente para equilibrar o défice pelo menos por três meses e assim apresentar boa contabilidade ao patrão alemão que agora até salsichas educativas nos impõe.