Herói da classe trabalhadora

O campeão das fugas prisionais partiu no dia anual de homenagem aos partizans jugoslavos. Filho de um anarco-sindicalista, ganhou consciência política muito jovem. Um dos muitos homens que nunca tiveram direito a ser meninos dormia numa banheira com palha num estaleiro da construção no Barreiro. Tinha 14 anos quando aderiu ao PCP e 15 quando a PIDE o espancou pela primeira vez. Foi operário no Arsenal da Marinha. Fugiu três vezes da prisão: duas de Peniche e uma de Caxias. Levava o pseudónimo de Freitas e conduziu a operação de fuga de Agostinho Neto e Vasco Cabral de Portugal rumo a Tânger. Foi um dos responsáveis pela Acção Revolucionária Armada, estrutura do PCP para fazer frente ao fascismo e ao colonialismo português em território nacional com operações contra a NATO e infraestruturas e equipamentos militares. Foi deputado depois da revolução e tinha a idade do PCP.

Cem anos e mais um da existência de um revolucionário de corpo inteiro. Uma fortaleza humana que se confunde com a história do movimento operário no nosso país e com a história do único partido que sobreviveu, resistiu e venceu o fascismo. Mulheres e homens como Jaime Serra são o combustível da revolução. Da que foi e da que virá. Aquela que se constrói na luta de todos os dias.

Até sempre, camarada.

W: Wuhan

W: Wuhan

Wuhan: o nome da cidade chinesa ficou inscrito na certidão de nascimento da COVID-19, uma certidão emitida pelo imperialismo ocidental e carimbada com o selo do racismo sinofóbico. O mito do “vírus chinês” cunhado por Trump é uma reedição do “perigo amarelo” do século XIX: mais uma vez, o chinês é apresentado como uma ameaça existencial ao mundo civilizado. Quer seja por comerem morcegos (nós comemos caracóis e tripas), quer seja pelo “regime totalitário” que confinou milhões de pessoas (mais tarde nós fizemos o mesmo), a China, qual judeu internacional, é o bode expiatório da pandemia global.

Ler mais

Ucrânia, uma coboiada em três actos

Acto I

Dos mitos às verdades

Da nacionalidade ucraniana há muito que se lhe diga, mais ainda que se lhe escreva. Nenhuma consideração actual está dissociada dos interesses dos interlocutores que lhe dão voz, e, quanto mais se adensa e aprofunda a “tensão” (façamos para já o favor de lhe chamar assim) entre a Rússia e a Ucrânia maior é a manipulação na definição da historicidade do país. Em boa verdade a Ucrânia enquanto nação, de modelo administrativo sólido e de configuração institucional reconhecida pela comunidade internacional data do recente dia de 25 de Dezembro de 1991, nunca antes, em consequência da desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Antes desse momento é certo que se vai definindo de forma esparsa a nacionalidade ucraniana (através sobretudo do desenvolvimento da nacionalidade eslava como um todo), que aliás conta com o contributo soviético nessa matéria; lá iremos.

Ler mais

Pódio de classe

pódio

Há um equívoco incompreensível em alguma esquerda que optou, nestas eleições como já havia feito nas Presidenciais, com os resultados que se conhecem, por fazer parte da campanha colocando o combate ao fascismo num patamar de corrida. Afirmar que um partido, seja ele qual for, ficar em terceiro numas eleições é uma derrota do fascismo que, teoricamente, ficaria em quarto, é, no melhor dos casos, ingenuidade; no pior, eleitoralismo e calculismo perigoso para toda a esquerda. Importa, assim, esclarecer alguns aspetos desta estratégia.

Ler mais

O Chicão é aldrabão

No mais recente debate que teve lugar na RTP3, o ainda líder do ainda CDS teve uma declaração que ficou no ouvido, referindo-se ao “Manel, que está há quatro anos à espera de uma consulta de oncologia”. Confesso que ponderei se valeria a pena gastar tempo e teclas para escrever sobre uma declaração de alguém tão novo e, ao mesmo tempo, tão velho. Porém, até as piores desculpas são bons motivos para escrever.

Ler mais

Um desgraçado postal com selo PS, PSD, CDS

É possível que poucos se tenham apercebido disso mas, em Novembro de 2020, os Correios de Portugal completaram 500 anos de existência. Não houve grande celebração, que se tenha notado, nem se terão cantado «parabéns» e por uma razão muito simples: a coisa está mais perto da morte do que dos «muitos anos de vida». Mas o postal que ilustra a desgraça da empresa não é anónimo, tem três siglas. As mesmas que há anos se vêm entretendo a fatiar o serviço público entregando-o às «maravilhas» da gestão privada. O resultado está à vista: de entidade pública sólida, confiável e útil, os CTT passaram ao topo da liderança das queixas dos portugueses.

Ler mais

V: voluntariado

V: voluntariado

Fazer voluntariado é trabalhar gratuitamente. No contexto capitalista, todas as razões são boas para não pagar um salário: a falta de experiência de jovens desempregados e sem contactos no mundo do trabalho; a generosidade das boas pessoas que não se conformam em assistir impávidas ao sofrimento alheio; a ideia de que a cultura não é propriamente um sector profissional normal e que, por isso, é normal trabalhar de borla; a vontade de conhecer pessoas novas e de “crescer espiritualmente”; a autocongratulação moral e a necessidade de autopromoção ou, simplesmente, o preço exorbitante do bilhete de um festival.

De embrulhar prendas para o Continente a controlar portas no Rock in Rio; de pedir comida para os pobres à porta do Pingo Doce a picar bilhetes no DocLisboa; de escrever comunicados de imprensa para a Volvo Ocean Race a distribuir restos de comida na Refood, todas as actividades e profissões são “voluntarizáveis”.

Ler mais