O estranho caso do jornalismo-comentador

Tem grassado crescentemente uma certa “estirpe” nas nossas televisões, rádios e jornais, um subtipo específico de comentadores que deve merecer toda a nossa atenção. Não falamos de óbvios militantes assumidos deste ou daquele partido, nem sequer daqueles que sempre foram comentadores, ainda que nada o pudesse ou devesse em algum momento justificar. Referimo-nos a uma moda relativamente recente, talvez mais perigosa, sub-reptícia, mas cada vez mais incisiva e presente. Referimo-nos a jornalistas, pivots, repórteres, “polígrafistas”, que, de vez em quando, saltam de uma cadeira do estúdio para outra cadeira do mesmo estúdio, mas agora para assumir o papel de “comentador”. Regra geral, é quando acontece esse momento televisivo «mágico», mas pleno de embaraço e constrangimento público, em que o entrevistador trata o entrevistado e seu colega por “tu”, estendendo a passadeira da relevância a quem dele em nada se distingue.

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Etapas tácticas e alianças

Os mencheviques eram os revolucionários russos que, no início do século XX, defendiam que antes de chegar ao poder operário, a revolução devia cumprir obrigatoriamente uma série de etapas políticas e históricas que, à luz de uma concepção economicista do marxismo, não podiam ser saltadas. Para os partidários de Trotsky, uma sociedade agrária em que o proletariado industrial era demográfica e politicamente embrionário, não podia saltar directamente para o socialismo. Era antes necessário que, sob o timão da burguesia, a Rússia se libertasse o desenvolvimento das forças produtivas as grilhetas do feudalismo. Depois, os mencheviques propunham um longo rol de de etapas protagonizadas por graduais transformações de corte nacional, constitucional, republicano e económico e democrático.

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És tu que pagas a vida que eles levam

Todos os anos, sem excepção, a direita, do PS ao Chega, celebra o 25 de Novembro. São muitos os que defendem que esta data passe a figurar no calendário como feriado nacional. Porquê? Porque consideram que foi um dia decisivo para derrotar aquilo a que continuam a chamar de ameaça do comunismo.

Ou seja, os militares que impuseram uma pesada derrota sobre o processo revolucionário que amanheceu a 25 de Abril do ano anterior e que acelerou a 11 de Março de 1975 devolveram o país à Europa Ocidental. Foi uma dinâmica lenta porque encontrou pela frente a resistência dos trabalhadores e do povo mas que conseguiu a integração de Portugal na CEE, a privatização da banca, a destruição da reforma agrária e o desmantelamento do aparelho produtivo.

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Futuro Armadilhado

Dez meses.

Desde a primeira declaração de Estado de Emergência até hoje, passaram-se dez meses. E qualquer pessoa com dois dedinhos de testa já percebeu que não vai ficar tudo bem. A economia não vai recuperar magicamente quando estivermos todos ou imunes ou vacinados ou mortos. Os postos de trabalho que foram destruídos com a pandemia não vão ser recuperados tão cedo, pura e simplesmente porque durante este período de dispensa de trabalhadores com contratos precários, em período experimental, com os layoffs, e todas as outras formas de reduzir prejuízos ou aumentar lucros cortando no número, nos rendimentos e nos direitos dos trabalhadores, o capital conseguiu aquilo que queria: manter a produção a funcionar com menos trabalhadores. O mantra liberal de que é a iniciativa privada que gera emprego caiu de podre: o capital cria postos de trabalho na estrita medida necessária para corresponder às necessidades de consumo de bens e serviços da sociedade.

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Mas qual é o espanto com Rui Rio mesmo?

A falta de memória pode explicar em parte. O propósito propagandístico de querer aligeirar o caso, tratando-o como uma «pequena falha» de um «democrata sem papas na língua» também. Mas falta de memória e vontade de branquear tendências e tiques fascistas é coisa que não medra neste espaço.

Do leque de acções abusivas de Rui Rio enquanto presidente da Câmara Municipal do Porto, vem-nos à memória a retirada atrevida de cartazes de propaganda partidária e sindical. Claro que, na altura, após a devida queixa do PCP, a CNE agiu em conformidade passando o devido e humilhante raspanete a Rui Rio, obrigando-o à reposição dos cartazes. Refrearam-se dessa forma os ímpetos mandões de quem nunca deu mostras de saber conviver bem com quem se lhe opusesse, mas a praxis e a postura foram sempre na mesmíssima toada.

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A culpa é do vizinho

Está estabelecida, numa parte da sociedade, a ideia de que questionar o que quer que seja feito pelo governo no combate à pandemia é ser, na melhor das hipóteses, parvo, na pior, um negacionista da Covid-19. Considerar que esta declaração de Estado de Emergência e o que foi decidido no Conselho de Ministros não foram as melhores opções é um crime de lesa-pátria. Considerar que estamos a caminhar para a normalização do que deveria ser excecional, com Estados de Emergência atrás de Estados de Emergência, e a limitação das liberdades individuais, de associação e reunião, não é o caminho certo, parece ser um ataque vil a tudo e mais alguma coisa.

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