O Observador e a luta de classes

Já o referi e reafirmo: o debate para o qual a direita nos convida – em torno do marxismo-leninismo, da história dos comunistas e das suas relações internacionais – é terreno minado, uma armadilha que visa desviar a atenção dos portugueses daquilo que hoje é essencial – afastar do governo de Portugal uma coligação de direita que conduziu o país a níveis de pobreza sem paralelo desde o 25 de Abril. Importa por isso resistir ao impulso e, por essa forma, evitar a armadilha.

Coisa diferente é calar a nossa indignação face ao ataque mediático continuado que desde 5 de Outubro passado tem sido dirigido ao PCP, aos seus dirigentes e militantes. O último exemplo dessa ataque cerrado vem hoje do diário online e pop de direita “Observador”.

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Botas cardadas com pezinhos de lã

Ui, que lá vêm eles com mania da perseguição queixar-se da cobertura mediática. Não é nada disso. Trata-se apenas da constatação de um facto que os últimos dias de incerteza governativa ajudaram a deixar claro. A direita-se pela-se de medo da esquerda e qualquer convergência que envolva o PCP é um ataque à democracia. Se isso se tornou evidente em todos os canais de televisão, jornais e rádios, no mundo complexo dos jornais regionais locais o caso é ainda mais grave. Num caso que não me recordo de alguma vez ter visto, surge o mesmo editorial, letra por letra e linha por linha, em quatro jornais locais: Diário de Coimbra, Diário de Leiria, Diário de Aveiro e Diário de Viseu. A vantagem destes em relação a outros órgãos de informação, neste caso os de carácter nacional, é que estes assumiram abertamente o seu combate à esquerda e ao PCP em particular, com referências tolinhas ao PREC e à desgraça que seria ter os comunistas no poder. Caiu a máscara a tantos e pode ser que isso ajude a clarificar aquilo que acusam de ser uma cassete.

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Turquia, a nossa grande raiva*

De todos lugares do mundo para fazer explodir uma bomba, uma manifestação pela paz é, por ventura, o mais sórdido. Talvez por isso seja ainda tão difícil compreender o inenarrável manifesto de desumanidade que, este sábado, ceifou pelo menos 130 vidas em Ancara, na Turquia. Depois, atingiram-nos, perplexos, aquelas imagens brutais da polícia a bater nas famílias que choravam os mortos. Ligeira e sem mais perguntas, a comunicação social dominante tratou de abreviar conclusões: «o maior atentado terrorista da Turquia moderna teve a assinatura do Estado Islâmico», repetiram, «assunto encerrado. Já cá não mora o Charlie». Se, por acaso, se tivessem perguntado «quem beneficiou com este ataque», teriam sido obrigados a lembrar-se que, afinal, não foi este, mas outros, como o Massacre de Maraş, em 1978, o atentado mais mortífero da Turquia moderna. Nessa ocasião, foram precisos quase 30 anos para se apurar a autoria do governo, com a colaboração da CIA, na matança de quase 200 militantes de esquerda. Seja como for, há coisas que nunca compreenderemos, que não podem ser humanamente compreendidas. Talvez por isso, Adorno tenha escrito que depois de Auschwitz a poesia se tornara «impossível». Desviar o olhar é, contudo, o privilégio dos espectadores e Adorno podia até dar-se ao luxo de não ser prático, mas a poesia tem justamente o mérito de desvendar a essência dos cenários incompreensíveis. Sirvamo-nos pois, dos versos do poeta e comunista Turco, Nâzım Hikmet. (Hás-de saber morrer pelos homens/E além disso por homens que se calhar nunca viste/E além disso sem que ninguém te obrigue a fazê-lo/E além disso sabendo que a coisa mais real e bela é/Viver)

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A nova “ameaça vermelha” (actualizado)

Quando um dia se fizer a história do processo pós-eleitoral de 2015, analisando a forma como a imprensa se mobilizou para caricaturar, marginalizar e descredibilizar uma solução governativa de ruptura com longo anos de submissão não disfarçada da política à finança e aos interesses das corporações nacionais e internacionais, não duvido que uma das conclusões prováveis se refira à forma como o medo foi arma de arremesso usada e abusada por um batalhão de fazedores de opinião fortemente empenhados em derrotar qualquer alternativa real ao status quo.

O que se passa na imprensa nacional é triste mas não surpreende. Na luta de classes há sectores da sociedade bem conscientes do seu lugar e do seu papel. Momentos como este que vivemos têm o mérito de tornar mais evidentes uma coisa e a outra.

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UGT, what else?

Esta coisa de de repente se apresentarem alternativas ao velho “arco da velha”, anda a irritar muita gente. Inefável na sua defesa do “centrão”, condição essencial para a sua existência, vem agora a UGT, através do seu iluminado líder, Carlos Silva, dizer que bonito, bonito era um blocozinho central com o CDS à mistura. Nada de novo, os cães fiéis e bem treinados obedecem sempre à voz do dono, sabem bem que no dia em que o não fizerem vão descalços para a cama e de barriga vazia.

Sempre que é preciso a máscara da UGT cai. Já o lancei várias vezes e volto a lançá-lo, o apelo aos trabalhadores sindicalizados nos sindicatos desta amarelice em forma de central sindical para que se deixem disso. Não adianta pagarem quotas a quem efectivamente não vos defende, não adianta suportarem sindicatos que constantemente aceitam migalhas em troca de bifes do lombo.

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O Falso Génio

É já quase um lugar-comum o facto de não haver pé de igualdade entre candidatos e candidaturas aos principais órgãos políticos do país. Sabemos muito bem que a formação da opinião pública, e consequentemente do voto, ainda depende – e muito – do que é veiculado e “como” é veiculado pelos órgãos de comunicação social. A direita, melhor do que ninguém, sabe que assim é, e não tenhamos dúvidas de que, nos dias que correm, tão importante como escolher deputados e ministros é escolher e mover influências para ter determinados comentadores “a entrar” todos os dias nas casas dos portugueses. Faz parte da estratégia que vai enganando e “controlando” muito boa gente neste país. Faz parte das razões que trouxeram o país para o pântano em que se encontra metido.

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Ainda sobre Cavaco e a Constituição

Já aqui no Manifesto74 se falou no incumprimento político do espírito da Constituição por parte de Cavaco Silva quanto à formação do novo Governo. Queria ainda referir outro atentado à Constituição que por ventura terá recebido menos atenção. Ao falar sobre as obrigações internacionais de Portugal, Cavaco mencionou, juntamente com as obrigações face à União Europeia e a zona Euro (como se estas tivessem prioridade face às obrigações de um governo Português face ao povo Português), as obrigações face à NATO. Cabe recordar que a Constituição é clara face à postura que Portugal deve ter quanto à NATO e quaisquer outros blocos político-militares. É bom recordar este artigo, continuamente desrespeitado por todos os governos pós 25 de Abril, pois de 13-26 de Outubro a NATO vai realizar um dos seus maiores exercícios militares precisamente no Mediterrâneo e Atlântico, em águas de Portugal, Espanha e Itália.

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Cavaco e o segredo de Polichinelo


Cavaco Silva cheira a mortos. O bafio sentiu-se deste lado das televisões mal começou o anúncio necróforo. Esta noite, o presidente veio dizer que se está a marimbar para os 63,17% dos eleitores que não aceitam a continuação da política do PSD-CDS/PP. A carcaça veio dizer que só conta o partido dele.

Ainda ninguém tinha votado e já ele nos estava a avisar que já sabia o que ia fazer, mas que não podia contar. Depois, disse que tinha estudado todos os cenários e que era só saber em qual desaguavam os resultados do escrutínio. E ao terceiro dia, o amumiado chefe de Estado revelou o que, afinal, já toda a gente sabia: enquanto ele for presidente, Portugal há-de ser só dos ricos. Foi o chamado segredo de Polichinelo.
A Constituição que Cavaco jurou cumprir é clara: «O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais». Mas cavaco só está interessado em cumprir com «as regras de disciplina orçamental» e «os compromissos internacionais assumidos pelo Estado português com a NATO, a União Europeia e a Zona Euro». São estes os únicos compromissos de Cavaco, que nem esperou pela publicação dos resultados oficiais.

Cavaco presume que mais ninguém tem condições de governabilidade porque quer escolher ele, independentemente dos resultados eleitorais, quem vai governar.

O Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais
N.º 1 do Art.º 187 da Constituição da República Portuguesa

O que resta à maioria de milhões de eleitores defraudados pelo presidente? Esperar quatro anos? Não! O que se faz quando as regras mais elementares da democracia não são cumpridas? Fazer compromissos os usurpadores? Não! Como se responde a um golpe de estado encapotado? Com a próxima assunção de «esquerda» de um PS moribundo e senil? Não! Só nas ruas se repõe a legalidade constitucional; só a luta abre caminhos; só o povo salva o povo.