É como no basebol, à terceira falha o lançador é eliminado. Neste caso foi o governo grego de coligação – Nova Democracia, PASOK – que saiu de cena. As eleições estão marcadas já para o próximo dia 25 de Janeiro e desta vez quem parte na frente é o SYRIZA, partido que promete o fim da austeridade e que recusa cumprir o pagamento da dívida tal como ele foi imposto pela Troika e aceite pelo actual governo grego.
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Um conto de natal
Uma vez, aterrei num país em que o natal era todos os dias. Ao contrário de Lisboa, não havia sem-abrigo debaixo dos enfeites. Nem por cima, nem em lado nenhum. Procurei-os por todas as partes e expliquei aos que por mim passavam que do outro lado do mar, onde vivo, os mendigos cumprem uma função espiritual de primeira ordem. São o oxigénio da caridade. Sem eles, não se podem encher páginas de jornais com louvores à singular generosidade dos ilustres que tendo dinheiro subtraem parte do sofrimento humano para saldar as suas dívidas de luxuria e ganância.
Das Primaveras do capital aos Outonos que nos querem impor
O frio nos países nórdicos é uma realidade inultrapassável e, ainda assim, os habitantes desses distantes povos andam vestidos em casa, no Inverno, como nós andamos vestidos na rua durante o Verão. As casas dos pobres dos países mediterrânicos são uma merda. Estão mal isoladas, são feitas de materiais baratos e não têm aquecimento central. Andamos em casa como se estivéssemos na rua e, no Sul da Europa, onde os termómetros raramente baixam dos zero graus, um gajo sente mais frio que na Escandinávia.
PS, CDS-PP e PSD: cúmplices da tortura da CIA
Foi hoje divulgado no Senado dos EUA um extenso relatório que dá conta do recurso sistemático à tortura pela CIA. A partir de hoje não restam margens para dúvidas: os 728 prisioneiros da CIA que oficialmente passaram por Portugal com a cumplicidade dos governos PS, CSD-PP e PSD foram selvaticamente torturados.
Passando os olhos pelo relatório ficamos a saber que os detidos eram “arrastados pelo corredor enquanto eram esbofeteados e esmurrados”, “alimentados e hidratados pelo recto sem qualquer necessidade médica”, submetidos a centenas de simulações de afogamento, “impedidos de dormir durante semanas”, “mantidos na escuridão absoluta agrilhoados a um canto e com música em alto volume”, “submetidos a banhos gelados”, obrigados a suportar “ameaças de violência física e sexual aos seus filhos e mulheres”, “obrigados a usar fraldas”, “torturados com insectos”, “forçados a aguentar durante horas posições desconfortáveis”, submetidos à tortura da estátua “durante mais de 40 horas”, entre muitos outros tipos de tortura psicológica e sexual.
O início do mandato de Juncker e a Ciência
Jean Claude Juncker, o novo Presidente da Comissão Europeia, não teve um início de mandato fácil: irrompeu o escândalo LuxLeaks e enfrentou uma moção de censura. Mas acabou por sair reforçado depois da moção e atreve-se a fazer algumas mudanças que são um mau prenúncio. Destaco algumas relativas ao investimento em Ciência.
O corpo de John Brown
Há precisamente 155 anos John Brown subia ao cadafalso na Virgínia por liderar a guerrilha anti-esclavagista que, ao contrário do movimento abolicionista burguês, defendia que a insurreição armada era o único caminho para a libertação.
Isolado mas idolatrado pelos escravos, amado mas mal armado com espingardas antiquadas, as chamadas “bíblias de Beecher”, a revolta que Brown encabeçou foi facilmente sufocada e representou a derradeira rebelião armada dos escravos nos EUA. O subsequente desenrolar da História outorgou aos esclavagistas do sul e aos seus financiadores do norte a gestão, pontuada por cedências, do fim da escravatura e da perpetuação do racismo. Na ausência de uma revolução anti-esclavagista, os negros foram historicamente destituídos da agência da sua própria libertação e confinados a reivindicar ao poder sem reivindicar o poder. Há claro, excepções: Fred Hampton, Malcolm X e, claro, John Brown, que, entre muitos outros, conheceram destino semelhante: pena de morte. Para todos eles sobraram canções como “O Corpo de John Brown” que reza assim: “O corpo de John Brown apodrece numa cova / mas o seu espírito continua a marchar”.
Há 30 anos sem Santi Brouard e Pablo González
Há 30 anos, neste mesmo dia, dois pistoleiros dos GAL entraram no consultório de Santi Brouard e abriram fogo sobre o dirigente comunista basco. A comoção e a revolta espalham-se como pólvora. A polícia tenta impedir que os independentistas bascos levem o corpo do presidente do partido HASI. O Estado espanhol, através dos seus grupos paramilitares, acabava de assassinar um representante eleito do Senado Espanhol, do parlamento basco, vereador da Câmara Municipal de Bilbau e figura histórica da esquerda independentista basca.
Cidadania à venda
Há um mar de mortos quando falamos de cidadania. Literalmente. Não apenas em Lampedusa, mas são aos milhares os que morrem a tentar obter a cidadania europeia para circular e trabalhar livremente naquela que é, para «eles», uma terra de oportunidades.
E ao passo que uma Europa podre retira os corpos sem vida dos que não conseguem chegar, vende a cidadania a quem a pode pagar. A cidadania e todos os direitos que lhe são inerentes.