A criançada só atrapalha. Razão tem aquela deputada israelita capaz de arrastar consigo os corações de todos os homens. Uma beleza tão europeia e delicada que é impossível não acreditar em tudo o que nos possa dizer Ayelet Shaked. As mães palestinianas devem ser assassinadas porque dão à luz pequenos répteis. As suas casas devem ser demolidas para deixarem de albergar terroristas. Não sei que efeito terão tido as suas palavras sobre os militares israelitas que esta tarde metralharam quatro crianças que jogavam futebol numa praia de Gaza. Mais um aborrecimento para os porta-vozes do único país que não tem regime no Médio Oriente. A única democracia da região teve de inventar uma desculpa para o acontecimento. Aos dóceis correspondentes estrangeiros bastou-lhes a razão apresentada: na praia, havia um contentor que era do Hamas. Não havia necessidade para tanto esforço. Se lhes dissessem que os chapéus-de-sol eram propriedade daquela organização, também servia.
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Isto é genocídio – Somos todos palestinos
Na Palestina, a cada três dias uma criança é assassinada por Israel. Nunca conheceremos os seus nomes, nunca ouviremos entrevistas com os seus pais, nunca veremos as suas caras. Porque um rocket palestiniano ser interceptado pelo escudo anti-misséis é mais relevante do que a vida de uma criança ser interceptada por uma bomba inteligente. Porque as lágrimas dos palestinianos valem menos que as de um israelita.
FARC-EP: Meio século de resistência

Há 50 anos, um grupo de 46 homens e duas mulheres resistiram às vagas sucessivas de ataques de um exército formado por milhares de soldados apoiados por carros de combate, bombardeiros da força aérea e forças norte-americanas de elite. A operação militar ordenada pelo governo conservador de Guillermo León Valencia deu lugar à épica resistência de um punhado de camponeses cuja luta é hoje acompanhada por milhares de guerrilheiros em prol do progresso e da justiça social. O primeiro combate dá-se no dia que marca a criação das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia: 27 de Maio de 1964. Sob o comando de Manuel Marulanda, Isaías Pardo e Jaime Guaracas, os combatentes conseguem superar o assédio militar e organizar em Julho desse mesmo ano uma conferência que produz um dos textos políticos fundamentais da resistência colombiana. No Programa Agrário, dirigido aos camponeses, operários, estudantes, artesãos e intelectuais revolucionários, dá-se conta da existência de um movimento insurgente, em quatro diferentes regiões, que, desde 1948, sofre a brutal repressão estatal e latifundiária.
Gostar de futebol não é alienação

Quando era puto, não havia muito que fazer. Enquanto os nossos pais e avós trabalhavam nas oficinas, na construção e nas fábricas, sobrava tempo para intermináveis jogos de futebol. As balizas do ringue não duraram muito. A partir desse dia passámos a usar pedras ou as próprias mochilas quando regressávamos da escola. Às vezes, quando entendíamos que tínhamos direito aos nossos mágicos duelos em campos mais apropriados, arriscávamos. Atravessávamos um descampado, onde nos duros tempos da heroína se injectava toda uma geração, fugíamos duma matilha de cães que guardava várias oficinas e saltávamos um muro que protegia o ringue de uma associação.
E de súbito, o ISIS passa a “extremista” (quando na verdade é apenas e tão só islamofascista)
O alarmes soam nos quartéis dos grandes falcões da guerra das potencias ocidentais. O som é cínico, envergonhado e comprometido, mas no espaço público os semblantes estão carregados e os discursos repletos de indignação: o grupo armado “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” tomou de assalto toda a região do Iraque que faz fronteira com a Síria e a sua marcha sobre Bagdade parece eminente. Por cá oiço as notícias e leio os jornais para verificar que os mesmíssimos islamitas de extrema-direita que na Síria são designados como “rebeldes”, do lado iraquiano da fronteira passam a “extremistas”. Salva-se o “i”, que apesar de tudo se mantêm coerente e títula “Rebeldes às portas de Bagdade“, preservando o estatuto do grupo islamo-fascista.
Normandia
É inegável a importância do desembarque na Normandia, ocorrido a 6 de Junho de 1944 (sublinho, 1944) para o desfecho da II Guerra Mundial. É inegável o heroísmo daqueles que desembarcaram na Normandia. Muitos dos soldados envolvidos na operação pagaram o mais alto preço e os seus camaradas que sobreviveram recordam-nos seguramente como exemplos de altruísmo e coragem. Sem o desembarque na Normandia os acontecimentos posteriores teriam certamente seguido um rumo diferente.
Mudam o rei espanhol para que nada mude

O ditador Francisco Franco preparou o jovem príncipe Juan Carlos para lhe suceder e garantir a manutenção do poder político e económico às classes dominantes. Quase sempre, as oligarquias sabem o que fazem. Os grandes grupos económicos e financeiros espanhóis foram os principais beneficiários da transição. Essa etapa histórica imposta por Madrid aos demais povos do Estado espanhol é, ainda hoje, elogiada pelos que criticam duramente os excessos da revolução portuguesa. Ali, placidamente, o ditador morreu na cama sem ser julgado e Juan Carlos assumiu as rédeas do Estado para alimentar com muitos cosméticos a nova realidade política. De facto, o poder económico manteve-se praticamente intacto e as instituições permaneceram sob controlo da órbita franquista: polícias, militares, juízes, professores, jornalistas, etc.