Todos os artigos: Internacional

Quid est veritas?

A célebre dúvida de Pilatos, trazida até nós pelo evangelho de João (Jo 18, 38), foi sempre tomada como uma das grandes interrogações da humanidade. Durante séculos, filósofos, pensadores, ideólogos, sociólogos, cientistas, historiadores, homens e mulheres, novos e velhos procuraram a grande resposta e, até hoje, sem grande sucesso. Mas quando digo ‘até hoje’, refiro-me literalmente ao presente e marcando desde já, e com toda a segurança, o término dessa longa viagem de crítica e de reflexão. Sim, porque, alvíssaras, já temos uma resposta: a verdade, hoje, é aquilo que cada um pretende que a verdade seja.

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A verdade é uma coisa qualquer

A verdade é uma coisa qualquer.

Só assim se entende que a actual narrativa anticomunista se construa e levante não assente em factos, mas antes se molde à conveniência e a um propósito último.

Não valeu de nada uma única palavra dita pelos comunistas portugueses, que afirmaram, “Putin age com tiques czaristas, a paz é o caminho, que se cesse de imediato a intervenção militar russa”, o que se escreveu e se leu foi, “PCP não condena Putin, nem a guerra”.

Não valeu a posição histórica do PCP em todos os cenários de conflitos internacionais, onde em todos, sem excepção, se apelou à paz e à diplomacia, ao contrário de outros.

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Como foi criado o regime da Ucrânia

Há uma discussão permanente sobre se aquilo que aconteceu em Kiev em 2014 foi uma revolução ou um golpe apoiado pelos Estados Unidos e União Europeia. Nesse sentido, é útil regressar ao passado e esmiuçar alguns factos que levaram à conformação do actual regime ucraniano.

Comecemos lembrando que, durante a chamada Revolução Laranja, em 2004/2005, na Ucrânia, segundo o The Guardian, os partidos Democrata e Republicano, o National Democratic Institute, o Departamento de Estado, a USAid, a ONG Freedom House e o Open Society Institute gastaram cerca de 14 milhões de dólares a patrocinar essa tentativa de empurrar o país para a esfera ocidental. A estratégia foi bem sucedida. Viktor Yushchenko, candidato pró-Ocidente, ganhou as eleições presidenciais.

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Os esquecidos de Donbass

Em 2018, estive em Donetsk e Lugansk. Visitei orfanatos, hospitais, escolas e fábricas. Falei com mineiros, autarcas, reformados, crianças, professores, empresários e sindicalistas. Assisti às lágrimas de mulheres enlutadas e ouvi disparos de artilharia sobre zonas civis.

Choca-me que nunca ninguém tenha querido saber desta gente, desde jornalistas a governos, e de repente tenham descoberto que há um Acordo de Minsk porque a Rússia deixou de o reconhecer, quando a Ucrânia o violava diariamente desde o momento em que foi assinado. Esse acordo previa, no ponto 3, a descentralização administrativa da Ucrânia com um regime de governação local em Donetsk e Lugansk.

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Ucrânia, uma coboiada em três actos

Acto I

Dos mitos às verdades

Da nacionalidade ucraniana há muito que se lhe diga, mais ainda que se lhe escreva. Nenhuma consideração actual está dissociada dos interesses dos interlocutores que lhe dão voz, e, quanto mais se adensa e aprofunda a “tensão” (façamos para já o favor de lhe chamar assim) entre a Rússia e a Ucrânia maior é a manipulação na definição da historicidade do país. Em boa verdade a Ucrânia enquanto nação, de modelo administrativo sólido e de configuração institucional reconhecida pela comunidade internacional data do recente dia de 25 de Dezembro de 1991, nunca antes, em consequência da desagregação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Antes desse momento é certo que se vai definindo de forma esparsa a nacionalidade ucraniana (através sobretudo do desenvolvimento da nacionalidade eslava como um todo), que aliás conta com o contributo soviético nessa matéria; lá iremos.

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A pomba vermelha da vontade

I

No início do filme Palombella Rossa, de Nanni Moretti, a personagem principal (Michele Apicella), interpretada pelo mesmo, sofre um acidente de carro que lhe provoca uma curiosa amnésia. Michele Apicella é, além de exímio jogador de pólo aquático, um dirigente comunista. Ora, a nossa personagem principal, após o acidente, logo se lembra de que é comunista – é a única certeza que tem – e repete-o, para ninguém se esquecer, mas não se lembra porquê; não se lembra porque é que outros o são; não se lembra do que é ser-se comunista. Como tal, anda às voltas, tentando convencer-se a si e aos outros, através de chavões e frases feitas, que nunca são suficientes e tampouco eficazes; inconscientemente à espera que algo surja para restabelecer as suas certezas, que algo o relembre da primordial razão, que algo o traga à tona, no pólo aquático e na vida; que algo o empurre para fora dos chavões e o devolva à acção, com a inabalável convicção e a força de vontade que deixara algures esquecidas, entre os cacos dos faróis do carro e a repetição dos dias burocráticos. Mas isto não é uma crítica de cinema.

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Marxismo e Darwinismo – A Definição da Humanidade

Karl Marx e Charles Darwin são não só dois pensadores revolucionários atendendo ao envolvente científico do século XIX, como emergem como os maiores e mais duradouros transformadores sociais até aos dias de hoje. Para além das obras e legado deixados, por um e por outro, e do seu intelecto, capacidade de análise e inovação de pensamento, a sua modernidade não está dissociada de terem sido contemporâneos por um lado, e, por outro, das relações que estabeleceram directa ou indirectamente entre si e as suas linhas de pensamento.

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A “esquerda” pró-imperialista

“As ideias da classe dominante são, a todo o tempo, as ideias dominantes. Isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é ao mesmo tempo a sua força intelectual dominante”, K. Marx in A ideologia Alemã, 1845
Claro que apenas uma leitura de todo o capítulo “Oposição das perspectivas materialista e idealista” pode ajudar-nos a ter uma perfeita compreensão da extensão do significado desta afirmação de Marx, bem como a compreender as suas implicações históricas e a sua abordagem dialéctica, mas deixemos isso para o leitor mais afoito da obra e tentemos partir daqui para uma abordagem do panorama político e ideológico actual, numa tentativa de aprofundar uma descrição da “esquerda de direita” que ao longo do nosso tempo sempre cumpre com afinco o papel que o dono lhe destina.

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