Todos os artigos: Nacional

Aos jornalistas que não são cães-polícia

Gosto de escrever histórias de piratas, ladrões, bêbedos e revolucionários. Como as canções de Fabrizio de André. A minha primeira reportagem foi um fiasco. Queria fazer um trabalho sobre o jardineiro senegalês que matou o presidente da Junta de Freguesia da Pena com uma maceta. Falei com ele uma vez ao telefone e tentei que mo deixassem entrevistar na prisão. Não deixaram. Para todos os efeitos, a primeira reportagem que escrevi na vida, ainda estudante, foi sobre uma operação policial espanhola contra vários jovens independentistas galegos acusados de terrorismo. Quando estagiei na Agência Lusa, a primeira notícia foi sobre um ataque do Movimento para a Emancipação do Delta do Níger. Ler mais

O Observador está com medo de que o mercado «funcione»

Os apelos roçam o desespero. Chega a ser quase enternecedor. O Observador tem fulminado os leitores e visitantes da sua página com mensagens de consternação pela falta de assinaturas e consequente apelo à subscrição paga dos seus conteúdos. José Manuel Fernandes, quando não surge na página a assinar textos bolsonaristas, ou na versão radiofónica com laivos medievais, aparece assim com ar sereno e cândido, de gatinho abandonado, implorando a todos os santinhos que façam lá a subscriçãozinha do órgão que o alimenta. Não se percebe de que tem medo o Observador. Afinal, caros amigos, é só a justiça do mercado a funcionar. Afinal, todos sabemos que em cada falência há sempre uma nova oportunidade. Novos e mais fortes empreendimentos, mais adaptados e evoluídos, surgirão no seu lugar. José Manuel Fernandes e seus pares não devem fazer cara feia ao seu negro futuro de gestores falidos: têm de estar gratos e satisfeitos pelo facto nobre e valente de a sua falência poder vir a dar lugar a um empreendedorismo mais próspero e mais capaz! Ler mais

A Bola perdeu o Norte

A insatisfação e indignação que grassa na redação do Porto do jornal A Bola, por um processo enviesado no prisma geográfico, sem qualquer outra justificação que não fosse encerrar a redação a norte, mesmo quando a esmagadora maioria dos clubes da I e II Liga estão a norte do Mondego. Este documento expõe o tratamento desigual recebido pela redação do Porto por parte da administração do jornal A BOLA, no lay-off decretado na segunda-feira, dia 6 de abril. Ler mais

Rita, põe-te em guarda

Ao ler as partes que a Blitz cita do lamento de Rita apenas se evidencia o que é óbvio (é mais do que óbvio) no meio do entretenimento português. Seria meio cultural se existisse uma política cultural, algum eixo, alguma estrutura de criação e fruição que garantisse este direito fundamental a todos. Mas não, é sempre a lógica da festa, do amigo, do amigão que arranja o concerto ao amigão, que conhece um tipo com que estudou na faculdade que é produtor e amigo do presidente da câmara, do namorado que tem uma banda e são muito amigos do tipo da rádio que já os passou (e que não costumar passar ninguém), que por sua vez janta todas as semanas com o gajo da discoteca que é amicissímo e até já namorou com a miúda do programa da televisão cujo namorado novo é das relações pessoais do gabinete da ministra já desde que ela era vereadora. Ler mais

“Agarrem-me senão vou-me a eles!”

É comovente ouvir António Costa, o Primeiro-Ministro de um país periférico, dar aquela chazada de peito cheio ao ministro da Holanda. É assim uma espécie de bálsamo patriótico, mas ao mesmo tempo placebo. Eleva a moral mas não faz nada. Pesem as diferenças notórias de estilo entre Costa e Passos Coelho, a grande diferença é que um pedia de joelhos e o outro faz aquele número do “agarrem-me senão vou-me eles” enquanto estende os braços para que alguém o agarre. É um bluff arriscado, e tem o seu valor por isso. Ler mais

Não, não #VaiFicarTudoBem

Não, não #vaificartudobem. Ou melhor, só #vaificartudobem para alguns. Porque quando António Costa disse que “nesta guerra estamos todos do mesmo lado”, não explicou que, como em todas as guerras, há soldados rasos, que nestas coisas vão sempre à frente, mas também há, do mesmo lado, mas não mesmo ao lado, e com isto quero dizer lá bem atrás, financeiros e industriais, que levam confortavelmente a mesmíssima bandeira à lapela dos seus paletós Ermenegildo Zegna. Acto contínuo, Costa explicou que “nesta guerra não há o Partido do Vírus e o Partido Contra o Vírus” mas, vamos lá ver, também não havia o “Partido da Crise e o Partido Contra a Crise” e todos sabemos como é que correu esse “grande esforço patriótico”. Ler mais

Chicão vai à tropa

Todos sabemos da responsabilidade directa do CDS no fim do serviço militar obrigatório. Todos nos lembramos das cartas abertas dos militares ao então ministro da Defesa, Aguiar Branco, nos anos da troika, «gritando» contra a situação «insustentável», de «paralisia de serviços», de perda de direitos em resultado da cega «suborçamentação» a que estavam então sujeitos. O CDS foi sempre muito amigo das forças armadas, excepto quanto as condenou a um funcionamento de penúria. Da mesma forma que sempre foi muito amigo dos pensionistas, excepto quando lhes cortou as pensões. Ou ainda dos agricultores, ou da «classe média», ou, enfim, de todos aqueles que foram alvo da hipocrisia histórica de um partido que fez sempre o contrário daquilo que dizia defender. Ler mais