Netanyahu e o revisionismo histórico

As recentes declarações do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, não são apenas mentirosas, lamentáveis e provocatórias [1]. No quadro da legislação em vigor no seu próprio país, o que Netanyahu fez foi violar a lei que criminaliza o revisionismo histórico em torno do Holocausto (Lei 5746-1986), nomeadamente no seu ponto n.º2 [2].

Neste contexto, foi sem surpresa que li as declarações da responsável pela investigação histórica do Centro Internacional do Holocausto – o Yad Vashem de Jerusalém –, Dina Porat, que se referiu à tese defendida por Netanyahu como “absolutamente falsa”. [3]

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Sobre Angola e Luaty Beirão

Num artigo intitulado «Angola: carta aberta aos meus amigos do PCP», o encenador Castro Guedes manifesta a sua (sincera) incompreensão com aquilo que diz ser «os silêncios» do PCP, partido cuja dedicação à causa da liberdade reconhece, sobre o caso dos jovens angolanos acusados de prepararem um golpe de Estado.

Caro Castro Guedes, compreendo as tuas preocupações: a greve de fome é um gesto de protesto tão extremo que não nos pode deixar indiferentes. Soberania dos Estados não é o mesmo que soberania dos povos e não pode nunca impedir que, como o Che, estremeçamos perante qualquer injustiça cometida em qualquer parte do mundo. Por outro lado, como tu reconheces, a política económica e social do governo angolano reveste-se de opções semelhantes às que afligem os trabalhadores de outros países europeus, asiáticos ou americanos onde o capitalismo se desenvolve.

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O Observador e a luta de classes

Já o referi e reafirmo: o debate para o qual a direita nos convida – em torno do marxismo-leninismo, da história dos comunistas e das suas relações internacionais – é terreno minado, uma armadilha que visa desviar a atenção dos portugueses daquilo que hoje é essencial – afastar do governo de Portugal uma coligação de direita que conduziu o país a níveis de pobreza sem paralelo desde o 25 de Abril. Importa por isso resistir ao impulso e, por essa forma, evitar a armadilha.

Coisa diferente é calar a nossa indignação face ao ataque mediático continuado que desde 5 de Outubro passado tem sido dirigido ao PCP, aos seus dirigentes e militantes. O último exemplo dessa ataque cerrado vem hoje do diário online e pop de direita “Observador”.

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Botas cardadas com pezinhos de lã

Ui, que lá vêm eles com mania da perseguição queixar-se da cobertura mediática. Não é nada disso. Trata-se apenas da constatação de um facto que os últimos dias de incerteza governativa ajudaram a deixar claro. A direita-se pela-se de medo da esquerda e qualquer convergência que envolva o PCP é um ataque à democracia. Se isso se tornou evidente em todos os canais de televisão, jornais e rádios, no mundo complexo dos jornais regionais locais o caso é ainda mais grave. Num caso que não me recordo de alguma vez ter visto, surge o mesmo editorial, letra por letra e linha por linha, em quatro jornais locais: Diário de Coimbra, Diário de Leiria, Diário de Aveiro e Diário de Viseu. A vantagem destes em relação a outros órgãos de informação, neste caso os de carácter nacional, é que estes assumiram abertamente o seu combate à esquerda e ao PCP em particular, com referências tolinhas ao PREC e à desgraça que seria ter os comunistas no poder. Caiu a máscara a tantos e pode ser que isso ajude a clarificar aquilo que acusam de ser uma cassete.

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Turquia, a nossa grande raiva*

De todos lugares do mundo para fazer explodir uma bomba, uma manifestação pela paz é, por ventura, o mais sórdido. Talvez por isso seja ainda tão difícil compreender o inenarrável manifesto de desumanidade que, este sábado, ceifou pelo menos 130 vidas em Ancara, na Turquia. Depois, atingiram-nos, perplexos, aquelas imagens brutais da polícia a bater nas famílias que choravam os mortos. Ligeira e sem mais perguntas, a comunicação social dominante tratou de abreviar conclusões: «o maior atentado terrorista da Turquia moderna teve a assinatura do Estado Islâmico», repetiram, «assunto encerrado. Já cá não mora o Charlie». Se, por acaso, se tivessem perguntado «quem beneficiou com este ataque», teriam sido obrigados a lembrar-se que, afinal, não foi este, mas outros, como o Massacre de Maraş, em 1978, o atentado mais mortífero da Turquia moderna. Nessa ocasião, foram precisos quase 30 anos para se apurar a autoria do governo, com a colaboração da CIA, na matança de quase 200 militantes de esquerda. Seja como for, há coisas que nunca compreenderemos, que não podem ser humanamente compreendidas. Talvez por isso, Adorno tenha escrito que depois de Auschwitz a poesia se tornara «impossível». Desviar o olhar é, contudo, o privilégio dos espectadores e Adorno podia até dar-se ao luxo de não ser prático, mas a poesia tem justamente o mérito de desvendar a essência dos cenários incompreensíveis. Sirvamo-nos pois, dos versos do poeta e comunista Turco, Nâzım Hikmet. (Hás-de saber morrer pelos homens/E além disso por homens que se calhar nunca viste/E além disso sem que ninguém te obrigue a fazê-lo/E além disso sabendo que a coisa mais real e bela é/Viver)

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A nova “ameaça vermelha” (actualizado)

Quando um dia se fizer a história do processo pós-eleitoral de 2015, analisando a forma como a imprensa se mobilizou para caricaturar, marginalizar e descredibilizar uma solução governativa de ruptura com longo anos de submissão não disfarçada da política à finança e aos interesses das corporações nacionais e internacionais, não duvido que uma das conclusões prováveis se refira à forma como o medo foi arma de arremesso usada e abusada por um batalhão de fazedores de opinião fortemente empenhados em derrotar qualquer alternativa real ao status quo.

O que se passa na imprensa nacional é triste mas não surpreende. Na luta de classes há sectores da sociedade bem conscientes do seu lugar e do seu papel. Momentos como este que vivemos têm o mérito de tornar mais evidentes uma coisa e a outra.

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UGT, what else?

Esta coisa de de repente se apresentarem alternativas ao velho “arco da velha”, anda a irritar muita gente. Inefável na sua defesa do “centrão”, condição essencial para a sua existência, vem agora a UGT, através do seu iluminado líder, Carlos Silva, dizer que bonito, bonito era um blocozinho central com o CDS à mistura. Nada de novo, os cães fiéis e bem treinados obedecem sempre à voz do dono, sabem bem que no dia em que o não fizerem vão descalços para a cama e de barriga vazia.

Sempre que é preciso a máscara da UGT cai. Já o lancei várias vezes e volto a lançá-lo, o apelo aos trabalhadores sindicalizados nos sindicatos desta amarelice em forma de central sindical para que se deixem disso. Não adianta pagarem quotas a quem efectivamente não vos defende, não adianta suportarem sindicatos que constantemente aceitam migalhas em troca de bifes do lombo.

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O Falso Génio

É já quase um lugar-comum o facto de não haver pé de igualdade entre candidatos e candidaturas aos principais órgãos políticos do país. Sabemos muito bem que a formação da opinião pública, e consequentemente do voto, ainda depende – e muito – do que é veiculado e “como” é veiculado pelos órgãos de comunicação social. A direita, melhor do que ninguém, sabe que assim é, e não tenhamos dúvidas de que, nos dias que correm, tão importante como escolher deputados e ministros é escolher e mover influências para ter determinados comentadores “a entrar” todos os dias nas casas dos portugueses. Faz parte da estratégia que vai enganando e “controlando” muito boa gente neste país. Faz parte das razões que trouxeram o país para o pântano em que se encontra metido.

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