Todos os artigos: Nacional

PS, PSD, CDS: Cor de Campanha Quando Foge

Ainda sou do tempo em que, da esquerda à direita, não faltava quem acusasse o PCP de esconder a sua imagem histórica atrás da sigla CDU. «Uma farsa», gritavam, «uma aldrabice», insultavam, «uma espertice», avisavam os arautos da «identidade». Não deixa, por isso, de ser absolutamente irónico que, neste ano de centenário do Partido e de campanha eleitoral autárquica, estejamos todos a ver precisamente a antítese dessa pungente narrativa. Enquanto que o PCP decide celebrar 100 anos inundando o país de milhares de bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, o PSD faz uma campanha autárquica praticamente sem laranja e o PS mete o punho vermelho na gaveta. O CDS, bem, esse nem sequer conta, porque dentro do bolso do PSD não se lhe consegue ver a cor.

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Carta ao meu Partido

Ora então aqui estamos, que mesmo de mil mortes anunciadas não te roubaram nunca a vida, nem tampouco um só ano de todos os teus cem. Que por entre as marés da história das histórias todas, bastará tão somente entre as vagas, um só camarada chamar camarada a outro, que tu sempre viverás.

Como de outra forma poderia ser, que se há tanto passado em ti, meu Partido, és ainda a juventude do mundo e a esperança de futuro. Que é tua argamassa a foice da ceifeira eterna e o martelo do operário resiliente, a que se juntou de braço dado, em fundação, a pena do intelectual, que todos foram muitos para te alevantar, que todos somos poucos para te continuar.

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Avante, temos de conversar

Olá Avante, estás bom? Olha, vou direito ao assunto: temos de falar. Se calhar até era melhor pessoalmente, porque estas coisas por mensagem… Epá, Avante, ouve: esta cena da longa distância não é para mim. Estamos juntos há quase 20 anos e continuamos a vermo-nos só três dias por ano. Não é isso que estou a dizer. Claro que ainda és o meu tipo, mas esta merda dos amores proibidos não pode durar para sempre, não é?

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Afeganistão – Um filme Americano

O levantar do pano

O triunfo da revolução Saur pelos comunistas do Partido Democrático Popular do Afeganistão em 1978, seguida pela Revolução iraniana, ocorrida em 1979, onde os Estados Unidos perdem uma importante base para o combate à URSS na guerra fria, acarretam consequências para a política imperialista ocidental. O Afeganistão torna-se assim prioridade para Estados Unidos e os seus famintos cães-de-fila ocidentais, alheios à condição humana do povo afegão, tudo em nome de um anticomunismo primário. Estudado o cenário geopolítico à altura, o aliado de circunstância são um grupo radical islamita, os mujahidins, precursor dos hoje conhecidos talibãs.

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Candidaturas Tiririca: Quem ganha com isso?

Há uma diferença abissal entre usar humor na política e ter uma política que nada mais procura ser do que humor. Nesta campanha ou pré-campanha para as autárquicas temos assistido a um aumento exponencial de candidatos-palhaço, que exploram com sucesso tudo o que garanta parangonas, de gente que brinca aos outdoors, aos slogans, que anseia pelas partilhas e sobretudo pela fama. Haverá várias explicações para o fenómeno, desde logo pela força presente do terreno virtual, mas uma das que quero aqui salientar é o imanente sentimento de desprezo, de menorização do acto e até dos cargos em questão da parte de quem leva a cabo uma campanha de puro e duro espalhafato. Porque não se trata só de desprezo e menorização do acto eleitoral em si; trata-se de desprezo e menorização da democracia como um todo.

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Somos da terra

Se é daqui que vos escrevo, se é debaixo deste sol de calor efémero que faz por aquecer a pedra do socalco que sustenta a vinha, se é daqui que vejo os rostos enrobustecidos à conta dos ventos nortenhos, de séculos de idade, que rasgam a paisagem duriense; rostos porém ternos, que miram ainda o rio serpenteando lá em baixo, como se olha um filho, endeusando-o, é então sobre este Douro também que me apresento ao Manifesto74.

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Histórias que a Cidade não conta

Para Orquídea era o morto que partia, só ele; e cá em baixo a vida persistia, mas uma vida dissoluta, de madrugada sem forças, (…) A vida tornava-se àquela hora quase intransitável, uma comédia tão torpe, uma beberagem tão repulsiva…

Urbano Tavares Rodrigues in Aves da Madrugada

A cidade de Lisboa, tal como outra qualquer, é um organismo vivo, é uma peça de teatro intempestiva, é um constante improviso que se conjuga numa harmonia que estranhamente flui e faz mexer cada órgão.

Infelizmente, o neoliberalismo, ideologia dominante na Europa, fomentador do individualismo desenfreado, tem tentado impor a ideia da cidade enquanto a forja de mais riqueza para o capital que, por via do trabalho, açambarca a mais-valia de quem todos os dias sai do seu “dormitório” para trabalhar. Aos olhos de hoje, a cidade, em que Lisboa é o exemplo perfeito, não é mais um organismo. É sim, um conjunto de operações de loteamento individuais que, graças à mão imaginária do mercado, se acaba por conjugar e fazer uma cidade. Nada mais é do que um somatório de edifícios e equipamentos que, se magicamente corresponderem a determinados critérios, poderá eventualmente ser considerada uma cidade. Não é um sítio para se viver, nem para se trabalhar. É um sítio para se dormir, com ou sem teto, com ou sem saneamento ou condições. É sobretudo um espaço de aprofundamento das desigualdades e da exploração.

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PS e a Ferrovia: A Memória Curta

Foto: José Sena Goulão (Lusa)

O PS e, em particular, o sonoríssimo e ufano Pedro Nuno Santos, têm andado numa roda viva de anúncios e gabarolices a respeito de medidas tomadas em relação ao sector ferroviário nacional. De súbito, o PS parece ter-se tornado no partido «dos comboios», no arauto da «recuperação da ferrovia», do «salvamento das máquinas ao abandono», do investimento e da promoção de um transporte até aqui efectivamente deixado ao abandono. Tudo estaria certo e seria merecedor de aplauso não fosse a colossal hipocrisia que todo o aparato propagandístico não deixa de ocultar. Afinal de contas, este PS, que é o mesmo e não outro, foi também de forma inequívoca um dos grandes responsáveis – por acção directa e por omissão – pelo abandono, pela destruição, pelo enfraquecimento da ferrovia em Portugal nas últimas décadas.

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