As eleições foram há um mês e um dia. Falou o povo, o PS decidiu responder ao apelo da esquerda e, entretanto, meteram-se ao barulho o Cavaco, os banqueiros, a direita mais conservadora e saudosista, comentadores e opinadores, no Expresso e no Observador, com particular incidência, com as suas três mãos: duas agarradas à cabeça e uma a bater no peito, em defesa dos superiores interesses da nação. Nas televisões, a generalidade dos comentadores avisa para a desgraça dos mercados, a fragilidade de um possível acordo do PS com a esquerda e meia-dúzia de maluquinhos criam eventos no facebook para darem as mãos e saírem à rua contra qualquer coisa que ninguém sabe muito bem o que é.
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A soirée no CCB sobre as sufragistas

A propósito do filme «As Sufragistas» a NOS organizou uma exibição no CCB e uma visualização do filme, com um debate onde apenas estavam representados PS e PSD e com a presença das seguintes «ilustres»:
Maria de Belém Roseira e Manuela Gonzaga, São José Lapa, Maria Rueff, Barbara Guimarães, Jessica Athayde, Raquel Strada, Rita Ferro Rodrigues, Iva Domingues, Silvia Rizzo, Mónica Jardim, Leonor Poeiras, Ana Marques, Catarina Morazzo, Alberta Marques Fernandes, Raquel Prates, Ana Rocha e Anabela Teixeira.
É um avião? é um pássaro? Não… é um Governo PS.

*foto de obra da autoria de ± maismenos ±
Independentemente do que venha a ser o resultado institucional da rejeição do programa do PSD/CDS que até agora parece desenhar-se no horizonte, não está em cima da mesa, para já, a construção de um “Governo de Esquerda”.
Quando tal vier a ser uma realidade em Portugal, será certamente resultado de uma movimentação de massas consciente da necessidade de ruptura com o capitalismo e com a consolidação do processo de integração capitalista europeia e não apenas de resultados eleitorais. Mas para já o que está a parecer resultar das eleições legislativas de Outubro é uma derrota do PSD e do CDS, sem que exista necessariamente – como consequência directa – uma substituição automática das suas políticas por outras distintas e de “esquerda”.
O Governo-Zombie
Foi hoje conhecido o tal “governo sólido” que Passos Coelho prometeu para os próximos quatro anos. E há, de resto, uma mão cheia de novidades. Não nas vontades, nem nas políticas, evidentemente, mas sim na simbologia que carrega quer a continuidade de uns, quer a entrada de outros. De “boas” referências do passado, a novas e redobradas garantias a mortos-vivos do governo anterior, esta “lista vip” de ministros e ministérios é bem ilustrativa da “ameaça” que seria ter esta direita durante mais quatro anos no poder. Após toda uma legislatura de uma política de monstruosidades, eis-nos agora perante um governo-zombie, que tem essa mais-valia anunciada de se esvair em cinzas já no próximo nascer do sol.
O apartheid social de Inês Teotónio Pereira
Contexto: no passado sábado a candidatura presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa organizou uma pouco concorrida sessão (estilo comício) no salão da sede da Voz do Operário, em Lisboa. A ex-deputada do CDS, Inês Teotónio Pereira, foi à Voz e dessa presença no comício de Marcelo resultou uma fotografia legendada que publicou nas redes sociais. Na fotografia pode ler-se a insígnia “Trabalhadores, uni-vos” inscrita em lápide presente no salão. Na legenda a seguinte observação: “Só o Prof. Marcelo me leva a um sítio com operário no nome”.
A piadola saiu-lhe cara e apesar de ter removido imagem e legenda das redes sociais, Inês Teotónio Pereira, que é ex-deputada eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa, já não pode fugir às consequências políticas das suas palavras.
40 anos de democracia?
Não deixo de notar a subtil mensagem que, no turbilhão de aldrabices e mistificações com que temos sido brindados nos últimos dias (a somar às muitas outras aldrabices de todos os dias), no meio de opiniões ditas e parágrafos escritos é verbalizada. E que é a seguinte: a referências aos 40 anos de democracia no nosso país. A princípio pensei tratar-se de um erro de cálculo, de um arredondamento. Mas depois, e conhecendo a casta, António Barreto trouxe à luz a evidência quando afirmou que um Partido Comunista nunca tinha governado em democracia (ele que fez parte do VI governo provisório).
Dissolução da NATO
A raiva, cega. O sectarismo, estupidifica. O discurso de Cavaco Silva ontem foi disso uma demonstração. Ninguém negará a legitimidade formal da indigitação de Passos Coelho, embora seja uma opção discutível politicamente, e até contrária a alguns dos objectivos por ele enunciados. Por exemplo, tendo sido avisado pelas forças parlamentares à esquerda da Coligação que um seu programa de Governo seria chumbado, Cavaco sabe estar a inaugurar um período de incerteza, contrário ao clima preferido dos tão importantes mercados e investidores (que por vezes parecem revestir-se de maior legitimidade que os eleitores).
“É matar os radicais”, disse o moderado!
Mas quando nos julgarem bem seguros, Cercados de bastões e fortalezas, Hão-de ruir em estrondo os altos muros, E chegará o dia das surpresas*
Nos últimos dias assistimos sem surpresa a uma escalada de “alertas” sobre a possibilidade da chegada ao poder de uns “perigosos partidos extremistas e radicais”. O PCP, esse partido até aqui elogiado pela direita por organizar manifestações “com todo o respeito pelas regras democráticas”, passou rapidamente a partido “da desordem”, do “caos”, do velho e regressado “papão” que não tem um programa “suficientemente aceitável” para governar o nosso país. Contudo, antes que os comunistas chegassem hipoteticamente ao poder, bastou esperar pelo início da noite de ontem para ver efectivamente o radicalismo e o extremismo tomarem conta – uma vez mais – da cena política nacional, e pela voz do próprio Presidente da República. “É matar os radicais”, lá disse o moderado!