Os snipers da Maidan (novos desenvolvimentos)

Os disparos de snipers sobre polícias e manifestantes na Praça Maidan, em Kiev, foi um dos elementos mais mediatizados daqueles dias de conflito aberto entre forças policiais e gente que a comunicação social ocidental descreveu de forma insistente como manifestantes “pacíficos” e “desarmados”.

É desde há muito perfeitamente óbvio que nem os manifestantes se encontravam todos desarmados, nem os protestos foram de forma alguma pacíficos. O golpe de estado deu-se de forma violenta e prosseguiu logo depois com a ocupação de sedes e ilegalização da actividade dos partidos tidos como “russofilos”, espancamentos e intimidações, assassinatos de que é exemplo o massacre de Odessa, a 2 de Maio de 2014.

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Por Ahora Y para Siempre

Há oito anos, uma prostituta parou-me no meio da rua para me perguntar se o tipo que levava estampado na t-shirt era Lénine. Essa história contei-a dezenas de vezes para ilustrar o grau de politização de uma sociedade radicalizada entre os que defendem um novo modelo social e os que se batem pela manutenção dos privilégios da oligarquia venezuelana. Ontem, numa esquina do centro de Caracas, dois homens esgrimiam argumentos numa discussão sobre se o processo bolivariano é ou não uma revolução. Uma amiga, jornalista, explicava que é um dos temas que mais incendeia e apaixona os que acabam quase sempre por terminar abraçados pelo sabor do rum.

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Somos todas as Covas da Moura

Entrei no bairro pela primeira vez. Com a sensação de estar a conhecer uma realidade bem diferente de tudo o que já conheci.

Fico em frente à varanda onde Jailza foi baleada. Vejo onde as carrinhas costumam – costumam – bloquear o bairro. Ele chega e conta o que aconteceu. Onde estava, como foi agarrado e o que lhe disseram. Todo o tempo apenas sou capaz de fazer um esgar de incredulidade.

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“Callcenter – um operário em construção” por Paula Gil

Comecei a trabalhar, num callcenter, na linha da NOS em Setembro de 2014. Fui contratada pela EMPRECEDE, uma empresa fantasma com o único objectivo de servir de intermediário à Teleperformance no recrutamento de recursos humanos. Uma empresa com 7000€ de capital social e mais de 1000 trabalhadores – bem mais de 1000 trabalhadores.

Os dias de formação são pagos a 5€ – as 8horas que lá passas (0,62€/hora) e que são obrigatórias -, mas só os recebes se completares a formação e em conjunto com o teu primeiro ordenado. Para que fique assente: toda a gente passa aquela formação. O único requisito é que não penses muito! Eu recebi 25€ pelos meus 5 dias de formação.

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QALY é a tua, ó meu?

Mário Amorim Lopes, que pelos vistos dá aulas de microeconomia numa faculdade qualquer, escreveu a título de convidado um texto no “sentinela” na direita portuguesa, o “observador” que é uma peça política capaz de fazer parecer uns meninos alguns dos mais sanguinários fascistas. O facto de este Mário ser professor na Universidade do Porto e doutorando em economia da saúde prova que de facto, Alexandre Homem Cristo, do CDS, tinha razão quando escrevia que “temos maus professores”, pelos menos no que toca a este Mário Amorim Lopes. Mas pior, mostra que temos o ensino capturado pela doutrina dominante do neo-liberalismo mais bárbaro e ordinário.

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A Cova da Moura não caminha só

Costuma-se dizer que na Amadora há bairros em que a polícia não entra, mas não é verdade. Nesses bairros, o que não entra é a Constituição da República Portuguesa. É preciso dizê-lo claramente: a Cova da Moura é um bairro de trabalhadores. Gente que todas as manhãs desce a encosta íngreme de ruas labirínticas para ir levar os filhos à escola e depois, quando há trabalho, ir trabalhar. Quem conhece o Alto da Cova da Moura depressa aprende a admirar a criatividade, a alegria e a solidariedade desta comunidade que, desafiando a exclusão dos governos, a pobreza imposta pelo capitalismo e as condições de vida, tantas vezes miseráveis, consegue ser um exemplo de dignidade para Portugal.

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Sauditas e Wahhabitas – Mil e uma noites de hipocrisia e terror*

Os estado-unidenses têm uma forma curiosa de lidar com a morte. No velório, em vez do pranto e das assoadelas, escuta-se o álbum favorito do falecido e contam-se anedotas sobre a sua vida. E o cemitério, que dificilmente um português escolheria para um agradável piquenique, é, para o americano, apenas um relvado: sem cruzes tétricas nem largos lutos, nem nada de lúgubre até onde a vista alcança. E no entanto, nem os mais pronunciados matizes da cultura, nem os sempre complexos rendilhados da língua, explicam o singular critério de Barack Obama para a morte de outros chefes-de-estado.

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