O romance polifónico do fascismo português

Ilustração de Gonçalo Salvaterra

Um ex-ministro do fascismo, o seu filho covarde, a criada que continuadamente viola, a governanta que o venera, um veterinário pedófilo que estaciona e se baba à entrada da Escola Secundária; a filha ilegítima parida no meio da palha que nem os animais quiseram comer e entregue, depois, a uma retornada de Angola; a jovem amante em quem projecta a mulher que o abandonou, a terapeuta ocupacional que cuida de si no final da vida; uma espiral doentia de escárnio e maldizer e, como se não bastasse, muito mais. É através de uma viagem, feita pelo Lobo Antunes-psiquiatra, ao âmago da maldade e da mesquinhez de 19 personagens, que o Lobo Antunes-escritor traça o mais visceral retrato do fascismo português, sentando num divã feito banco dos réus estas personagens fictícias e tão tenebrosamente reais, em O Manual dos Inquisidores.

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Breve apontamento sobre terrorismo português

Segundo a OMS, em 2019, cerca de mil milhões de pessoas sofriam de um transtorno mental, sendo que este número inclui 14% dos adolescentes. Em Portugal, as doenças mentais têm um peso de 22,5% no total das patologias. Num país em que 2,3 milhões de cidadãos precisam de apoio psicológico; onde as filas de espera são infindáveis e o custo de vida não é suportável por mais de metade da população portuguesa; onde a exploração e a precariedade são tradição, os setores mais reacionários de Portugal encontram terreno fértil para explorar as suas ideias e encetar planos de destruição do SNS, de aprofundamento do racismo estrutural, da xenofobia e de muitos outros e variados preconceitos e violências contra as camadas mais vulneráveis da população.

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A Estupidificação como Projecto Político do Capital

É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.

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Ou falas tu ou és calado

Todos os meses, a Marktest apresenta um gráfico com as figuras mediáticas com maior presença nos quatro canais em sinal aberto, durante os espaços de informação, ou “telejornais”, como a história da televisão nos habituou a chamar. RTP1, RTP2, SIC e TVI têm, entre eles, oito espaços de informação diária, sendo incluído, e bem, o Portugal em Direto, na RTP1. A contagem anual do tempo que cada um é reveladora do que é o panorama da informação em Portugal.

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O Estado-Galamba e a “pessoa de bem”

João Galamba tem razão: o Estado é uma pessoa de bem, a questão é que depende para quem. Se a matéria em apreço for o bónus de três milhões de euros prometido à gestora da TAP como recompensa pela privatização, então sim: o Estado honra a palavra dada. Mas se estivermos a falar dos 130 trabalhadores que asseguram o serviço de bar e refeições nos comboios da CP, então esse mesmo Estado “pessoa de bem” já não garante nada. Nem o emprego, nem o serviço público, nem sequer o salário de Janeiro, que continua por pagar.

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