A insinuação

Foi por mero acaso que apanhei o final do programa “Este sábado” transmitido pela Antena1 no passado fim-de-semana. Quando liguei o rádio iniciava-se a intervenção de Raul Vaz, personagem do comentário político que a Antena1 insiste em apresentar como especialista em questões de política nacional.

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Outubro

Era um vez, há muito, muito tempo atrás, um país onde quem ordenava era o povo. Pode parecer impossível, mas nessa terra distante, os teatros eram gratuitos, só se trabalhava sete horas, os estudantes eram pagos para continuar a estudar e quando alguém ficava doente, havia hospitais onde não se pedia dinheiro nem seguros de saúde.

Mas esse mundo desapareceu: os teatros voltaram a ser caros, voltou a trabalhar-se doze horas por dia, os estudantes passaram a ter que se endividar para poder estudar, os hospitais voltaram a ser um privilégio dos ricos e nós, passada a vertigem bárbara dos anos noventa, voltámos a debruçarmo-nos como arqueólogos sobre as ruínas engolidas pela selva do dinheiro, querendo saber tudo sobre esse tempo, como nasceu, como viveu e como morreu.

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A superioridade curricular de Varela, Raquel

«Lisboa, uma cidade à venda», poderia bem ser o título deste post. Como o poderia ser «o avanço da gentrificação nas grandes cidades» ou mesmo um pequeno texto sobre como as políticas municipais e nacionais estão a transformar as cidades num espaço apenas acessível a elites económicas, expulsando do seu centro quem desde sempre o habitou por não terem condições para permanecer nestes espaços, agora de elite.

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O imperialismo existe

O processo mental de construção daquilo que quero escrever é uma espécie de nuvem que se vai alimentando de factos até crescer de tal forma que desagua numa tormentosa necessidade de escrever. Acontecimentos tão distantes geograficamente como os que se passam no Curdistão, na Venezuela e em Portugal cruzam-se com outros cuja distância não se mede em quilómetros mas em anos. Há pouco tempo, com um amigo colombiano que visitava a capital portuguesa pela primeira vez, debatíamos sobre a miserável assepsia que brotava da ideia dominante de que a Europa era um continente exemplar. Meses antes, havíamos estado num remodelado mercado de uma cidade europeia que já fora palco de violentos combates entre o operariado e as forças da repressão. Depois de um processo de reconfiguração, o que havia sido um importante centro industrial era agora um cartão de visita para o turismo. Do fumo das granadas de gás e dos fortes cheiros que cuspiam as fábricas envolventes aos estaleiros, agora o ar que se respira é quase impoluto.

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Caos? Qual caos?

Não há caos absolutamente nenhum. Na Justiça está tudo normal. Tirando o facto de o sistema estar paralisado, o curso dos processos suspenso, a confiança dos cidadãos na justiça contaminada e os juízes falarem de uma situação “gravíssima” e “preocupante”, tirando isso, está tudo bem.

Na Educação também não há caos absolutamente nenhum. Tirando o facto de o concurso ter sido anulado, de haver milhares de professores sem colocação, de haver turmas sem professores há semanas, de o ministério se descartar atirando responsabilidades para cima das escolas, tirando isso, está tudo bem.

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O imperialismo também usa silenciador

Esta tarde, o deputado venezuelano Robert Serra, eleito pela zona de Caracas que inclui o bairro 23 de Enero, baluarte da revolução bolivariana, ia participar numa conferência consignada ao tema «Fascismo, vanguarda extrema da burguesia». Mas já não vai. Caiu assassinado mais a sua companheira na noite passada. Para lá da especulação, há boas razões para suspeitar do imperialismo, essa mão invisível que se abate sobre os povos mas que só se confirma décadas depois quando se desclassificam documentos.

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Farsa para um povo enganado e um banqueiro armado

Somos muitas vezes levados a crer que a intervenção do Estado, através das ordens dos Governos, na banca privada se destina a salvaguardar uma espécie de entidade abstracta que dá pelo nome de “banco”. Essa ilusão alimenta a justificação que não poucas vezes parece chancelar a intervenção do Estado: a da necessidade de, salvando o “banco”, se salvam os depositantes e as poupanças que lá se encontram.

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No Pineapple Left Behind – os videojogos ao serviço do povo

Excepções à parte, a chamada “cultura dos videojogos” sempre foi a coutada da direita marginal, um terreno ideologicamente dominado pelo sexismo, o culto da violência, o anti-comunismo e a apologia do imperialismo. À medida que esta indústria conquistou lugares nas bolsas, ultrapassando mesmo a indústria cinematográfica a nível mundial, foi atraindo o interesse e o investimento de magnatas cujas ambições políticas se reflectem nos jogos.

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