De cabeça baixa

Metro do Campo Grande. Um homem vendia a revista “Cais”. Entre os “não, obrigado” que rapidamente viravam a cara, com ou sem sorriso, uma senhora simplesmente fecha a expressão, baixa a cabeça e olha para os pés. A filha adolescente da mulher também fica muda e olha para o lado. O homem a fala sozinho durante uns segundos, até desistir.Há uns anos, de sorriso na cara, comprava a “Cais”, de vez em quando, dava uma moeda ou um pão, de vez em quando. Agora não posso, mas ainda consigo dizer sempre “não”, mas sorrio cada vez menos. Quanto mais evidentes são as minhas próprias dificuldades financeiras e de projectar o futuro, mais consciente fico de que a linha que divide uma vida digna, com um tecto e sem fome, de uma vida que não é bem uma vida, é mesmo muito ténue. E é uma linha intermitente, com cada vez mais buracos onde podemos tropeçar e cair.

Ler mais

António Costa & Os Lugares Comuns

Talvez soe a nome de banda de garagem, de má qualidade por certo, mas – atenção! – ainda assim capaz de dar ‘música’ a muito boa gente. Não desvalorizemos nem subestimemos o fenómeno. Esta nova ‘banda’, lavadinha, com ar fresco, seria muito bem capaz – à semelhança de outras – de atingir o ‘top de vendas’ repetindo ad nauseam o seu único ‘hit’. Não tem substância artística, digamos assim, mas tem tão somente o condão de reproduzir ‘temas’ que entram facilmente no ouvido da larga maioria dos ‘ouvintes’. Tirando essa ainda assim eficaz ilusão, ou essa superficialidade sonora, a qualidade continua a ser tão má como a da ‘música’ que temos ouvido nos últimos três anos.

Ler mais

O Povo já vos demitiu

Hoje Passos Coelho deu-nos a enésima evidência de que a democracia é para abater. Quando declarou, na Assembleia da República, que os juízes do Tribunal Constitucional não têm condições para continuar a ocupar o cargo, o Primeiro-ministro insinuou um golpe de estado.

Ler mais

Capitalismo para totós VIII – Caridade

Caridade é o termo que designa o conjunto de acções, motivadas ou não por convicção ou convenção religiosa, que consistem na circulação de um bem entre pessoas sem outro fim que não o de manter o desequilíbrio na fruição da riqueza. Ou seja, o suposto desprendimento de um certo bem não se verifica, na medida em que quem doa determina pela doação a continuidade das relações sociais existentes. O pior que poderia suceder para o capitalismo seria os pobres e miseráveis tomarem por suas mãos o que por direito podem ter.

Ler mais

Ai de si que engravide!

Aparecem hoje notícias que nos anunciam que algumas empresas obrigam as suas trabalhadoras a assinar um papel onde se comprometem a não engravidar nos próximos cinco ou seis anos. A única novidade aqui é o facto de isto, finalmente, ser notícia.Desde a chegada da Troika ao país, e utilizando a chantagem da crise, foram vários os patrões que pressionaram, coagiram e despediram mulheres grávidas ou com filhos pequenos a cargo. Numa empresa que se queira rentável, produtiva e empreendedora, uma trabalhadora nestas condições é um empecilho tão grande quanto o tamanho da barriga que ostenta.

Ler mais

São horas, senhor

Já muito se escreveu e falou sobre o mais recente videoclip dos Mão Morta. Chocante, para alguns, violento, para outros, a verdade é que aqueles (quase) 4 minutos espelham bem a realidade de um país. A música, arrastada e hipnotizante, e o duro conteúdo das palavras grunhidas pelo Adolfo Luxúria Canibal, fazem um par perfeito com as imagens que vamos vendo lá atrás. É o BPN, é o Sócrates e o Passos, é a Igreja e a Troika, enfim, é tudo aquilo que nos tem empurrado para o buraco. E é sobretudo uma arma carregada que dispara e mata. Com precisão.

Ler mais

Procura-se Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas

Fugiu de casa de seus pais, Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas. No dia do seu desaparecimento, o indivíduo de 52 anos vestia calções de banho com motivos florais, chinelos de enfiar o dedo verde-alface e uma t-shirt do Pique, a mascote do Mundial de Futebol de 86, no México. A Polícia Judiciária dá conta da extrema perigosidade que este indivíduo apresenta para os transeuntes das ruas do país. Quando avistado, a primeira coisa a fazer é tapar imediatamente os ouvidos, visto que além de ser popularmente conhecido como alguém de falinhas mansas, este elemento bale quando tenta cantar. As autoridades nacionais irão distribuir, gratuitamente, tampões de silicone para os ouvidos até que se descubra o paradeiro deste desaparecido.

Ler mais