Gostar de futebol não é alienação

Quando era puto, não havia muito que fazer. Enquanto os nossos pais e avós trabalhavam nas oficinas, na construção e nas fábricas, sobrava tempo para intermináveis jogos de futebol. As balizas do ringue não duraram muito. A partir desse dia passámos a usar pedras ou as próprias mochilas quando regressávamos da escola. Às vezes, quando entendíamos que tínhamos direito aos nossos mágicos duelos em campos mais apropriados, arriscávamos. Atravessávamos um descampado, onde nos duros tempos da heroína se injectava toda uma geração, fugíamos duma matilha de cães que guardava várias oficinas e saltávamos um muro que protegia o ringue de uma associação.

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A Teimosia do PCP

Faz hoje anos que Álvaro Cunhal morreu. E faz também anos que muitos prenunciaram (pela 9858748ª vez) a morte do partido que, curiosamente, mais tem crescido nos últimos tempos. E isso, parecendo que não, para muitos constitui um problema. O PCP esteve muitas vezes “para morrer”. Teimosamente, nunca deu essa enorme satisfação à direita portuguesa (PS incluído), muito menos àqueles que no recato de um fascismo mais ou menos contido, anseiam pelo fim do partido político que resiste e luta coerentemente, luta após luta, ano após ano, ao lado do povo e dos trabalhadores portugueses.

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Novos meios de enformação

Quando, em 1999, a caminho dos 18 anos, entrei pela primeira vez na redacção de um jornal, apaixonei-me. Como quando fui a Londres, apaixonei.me. Apaixonei-me, eu, um gajo manifestamente contra o amor. Havia qualquer coisa naquele sexto andar que me prendeu de uma forma indescritível. Entrei e ninguém me ligou nenhuma. Normal, presumo. O barulho dos teclados que se misturava com os dos telefones, a procura das fontes e as pessoas que subiam e desciam até ao sétimo andar, onde estava então a paginação.

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E de súbito, o ISIS passa a “extremista” (quando na verdade é apenas e tão só islamofascista)

O alarmes soam nos quartéis dos grandes falcões da guerra das potencias ocidentais. O som é cínico, envergonhado e comprometido, mas no espaço público os semblantes estão carregados e os discursos repletos de indignação: o grupo armado “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” tomou de assalto toda a região do Iraque que faz fronteira com a Síria e a sua marcha sobre Bagdade parece eminente. Por cá oiço as notícias e leio os jornais para verificar que os mesmíssimos islamitas de extrema-direita que na Síria são designados como “rebeldes”, do lado iraquiano da fronteira passam a “extremistas”. Salva-se o “i”, que apesar de tudo se mantêm coerente e títula “Rebeldes às portas de Bagdade“, preservando o estatuto do grupo islamo-fascista.

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Amor é Comunismo

Amor é comunismo (Já está. Agora vá, faz lá esse sorriso cínico. Pronto. Já passou? Então respira fundo, deixa-te de merdas e lê-me lá até ao fim, se faz favor).
Quando em 2006 Chávez foi reeleito, o parque de Miraflores trocou o verde tropical pelo vermelho sanguíneo. Era a imensa multidão dos pobres de Caracas, pobres de uma pobreza antiga, que tinha vindo ouvir o Presidente, o seu Presidente. E por segundos, quando Chávez falou, a praça pareceu tomada de um silêncio imperscrutável – misterioso. Como se quinhentos anos de servidão tivessem por fim findado ou um velho encantamento se levantasse ao som das suas palavras: “Que ninguém tenha medo do socialismo, porque o socialismo é fundamentalmente humano: socialismo é amor, é solidariedade (…) e o meu coração declara-vos o meu amor infinito”. Não é difícil sentir a franqueza de Chávez, mas mais que genuíno, recuperava uma ideia problemática e inexplicavelmente esquecida pela esquerda: a ideia de que o comunismo é o nome político do amor.

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Procura-se Álvaro dos Santos Pereira

Fugiu de casa de seus pais, Álvaro dos Santos Pereira, também conhecido desde a infância como “Alvarinho”. No dia do seu desaparecimento, o indivíduo de 42 anos, vestia um anorak grená, boina azul com a marca “Olá” estampada e ao pescoço transportava um tabuleiro com duas dúzias de pasteis de nata. As forças de segurança dão conta de que o indivíduo aparenta sofrer de perturbações mentais. Vários testemunhos afirmam que foi visto por mais do que uma vez a falar sozinho na rua, em restaurantes, em cafés, em concertos e em salas de cinema, com amigos imaginários a quem trata por “mercados”.

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Normandia

É inegável a importância do desembarque na Normandia, ocorrido a 6 de Junho de 1944 (sublinho, 1944) para o desfecho da II Guerra Mundial. É inegável o heroísmo daqueles que desembarcaram na Normandia. Muitos dos soldados envolvidos na operação pagaram o mais alto preço e os seus camaradas que sobreviveram recordam-nos seguramente como exemplos de altruísmo e coragem. Sem o desembarque na Normandia os acontecimentos posteriores teriam certamente seguido um rumo diferente.

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Procura-se Vítor Louçã Rabaça Gaspar

Fugiu de casa de seus pais, Vítor Louçã Rabaça Gaspar. No dia do seu desaparecimento, o indivíduo de 53 anos, vestia um fato escuro, coçado nos cotovelos, gravata laranja desbotada e sapatos pretos de berloques impecavelmente engraxados. Segundo as declarações recolhidas pela Polícia Judiciária, esta fuga poderá ter-se dado por motivos passionais. Vítor Louçã Rabaça Gaspar terá abandonado a sua relação polígama com os membros do XIX Governo Constitucional de Portugal, para se juntar, numa relação bígama, a duas senhoras de meia-idade, uma alemã e outra francesa, que lhe terão prometido um emprego mais estável e mais bem remunerado do que o seu anterior. Este emprego teria ainda o bónus de ser livre de impostos e oferece a possibilidade de uma relevante reforma antecipada ao final de apenas 3 anos.

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