Caridade é o termo que designa o conjunto de acções, motivadas ou não por convicção ou convenção religiosa, que consistem na circulação de um bem entre pessoas sem outro fim que não o de manter o desequilíbrio na fruição da riqueza. Ou seja, o suposto desprendimento de um certo bem não se verifica, na medida em que quem doa determina pela doação a continuidade das relações sociais existentes. O pior que poderia suceder para o capitalismo seria os pobres e miseráveis tomarem por suas mãos o que por direito podem ter.
Ai de si que engravide!
Aparecem hoje notícias que nos anunciam que algumas empresas obrigam as suas trabalhadoras a assinar um papel onde se comprometem a não engravidar nos próximos cinco ou seis anos. A única novidade aqui é o facto de isto, finalmente, ser notícia.Desde a chegada da Troika ao país, e utilizando a chantagem da crise, foram vários os patrões que pressionaram, coagiram e despediram mulheres grávidas ou com filhos pequenos a cargo. Numa empresa que se queira rentável, produtiva e empreendedora, uma trabalhadora nestas condições é um empecilho tão grande quanto o tamanho da barriga que ostenta.
São horas, senhor
Já muito se escreveu e falou sobre o mais recente videoclip dos Mão Morta. Chocante, para alguns, violento, para outros, a verdade é que aqueles (quase) 4 minutos espelham bem a realidade de um país. A música, arrastada e hipnotizante, e o duro conteúdo das palavras grunhidas pelo Adolfo Luxúria Canibal, fazem um par perfeito com as imagens que vamos vendo lá atrás. É o BPN, é o Sócrates e o Passos, é a Igreja e a Troika, enfim, é tudo aquilo que nos tem empurrado para o buraco. E é sobretudo uma arma carregada que dispara e mata. Com precisão.
Procura-se Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas
Fugiu de casa de seus pais, Miguel Fernando Cassola de Miranda Relvas. No dia do seu desaparecimento, o indivíduo de 52 anos vestia calções de banho com motivos florais, chinelos de enfiar o dedo verde-alface e uma t-shirt do Pique, a mascote do Mundial de Futebol de 86, no México. A Polícia Judiciária dá conta da extrema perigosidade que este indivíduo apresenta para os transeuntes das ruas do país. Quando avistado, a primeira coisa a fazer é tapar imediatamente os ouvidos, visto que além de ser popularmente conhecido como alguém de falinhas mansas, este elemento bale quando tenta cantar. As autoridades nacionais irão distribuir, gratuitamente, tampões de silicone para os ouvidos até que se descubra o paradeiro deste desaparecido.
Gostar de futebol não é alienação
Quando era puto, não havia muito que fazer. Enquanto os nossos pais e avós trabalhavam nas oficinas, na construção e nas fábricas, sobrava tempo para intermináveis jogos de futebol. As balizas do ringue não duraram muito. A partir desse dia passámos a usar pedras ou as próprias mochilas quando regressávamos da escola. Às vezes, quando entendíamos que tínhamos direito aos nossos mágicos duelos em campos mais apropriados, arriscávamos. Atravessávamos um descampado, onde nos duros tempos da heroína se injectava toda uma geração, fugíamos duma matilha de cães que guardava várias oficinas e saltávamos um muro que protegia o ringue de uma associação.
A Teimosia do PCP
Faz hoje anos que Álvaro Cunhal morreu. E faz também anos que muitos prenunciaram (pela 9858748ª vez) a morte do partido que, curiosamente, mais tem crescido nos últimos tempos. E isso, parecendo que não, para muitos constitui um problema. O PCP esteve muitas vezes “para morrer”. Teimosamente, nunca deu essa enorme satisfação à direita portuguesa (PS incluído), muito menos àqueles que no recato de um fascismo mais ou menos contido, anseiam pelo fim do partido político que resiste e luta coerentemente, luta após luta, ano após ano, ao lado do povo e dos trabalhadores portugueses.
Novos meios de enformação
Quando, em 1999, a caminho dos 18 anos, entrei pela primeira vez na redacção de um jornal, apaixonei-me. Como quando fui a Londres, apaixonei.me. Apaixonei-me, eu, um gajo manifestamente contra o amor. Havia qualquer coisa naquele sexto andar que me prendeu de uma forma indescritível. Entrei e ninguém me ligou nenhuma. Normal, presumo. O barulho dos teclados que se misturava com os dos telefones, a procura das fontes e as pessoas que subiam e desciam até ao sétimo andar, onde estava então a paginação.
E de súbito, o ISIS passa a “extremista” (quando na verdade é apenas e tão só islamofascista)
O alarmes soam nos quartéis dos grandes falcões da guerra das potencias ocidentais. O som é cínico, envergonhado e comprometido, mas no espaço público os semblantes estão carregados e os discursos repletos de indignação: o grupo armado “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” tomou de assalto toda a região do Iraque que faz fronteira com a Síria e a sua marcha sobre Bagdade parece eminente. Por cá oiço as notícias e leio os jornais para verificar que os mesmíssimos islamitas de extrema-direita que na Síria são designados como “rebeldes”, do lado iraquiano da fronteira passam a “extremistas”. Salva-se o “i”, que apesar de tudo se mantêm coerente e títula “Rebeldes às portas de Bagdade“, preservando o estatuto do grupo islamo-fascista.