Torniquetes e Barreiras

É sempre o mesmo espectáculo. O saltar metálico das rodas do comboio, os corpos apertados «com licença…» a evitar inevitavelmente tocar nos outros. E eis que «Senhores passageiros!» grita aos altifalantes uma voz respeitosamente agastada «É favor não forçar as portas do comboio!». Quando os travões chiam, o sol ainda vai alto na estação de Queluz-Belas, uma enorme barraca de alumínio no meio dos prédios. «Vai sair? Com licença». Depois, a multidão transborda como uma bebida gasosa agitada durante toda a viagem, arrastando consigo os que ficaram presos ao varão central e que só queriam sair na próxima.

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FARC-EP, 50 anos de resistência!

Neste dia, há meio século, um grupo de 46 homens e duas mulheres resistiam a um cerco militar montado pelo governo da oligarquia colombiana. Vagas sucessivas de ataques de um exército formado por milhares de soldados apoiados por carros de combate, bombardeiros da força aérea e forças norte-americanas de elite não conseguem derrotar o punhado de camponeses. Meses antes, a direcção do Partido Comunista Colombiano envia Jacobo Arenas, membro do Comité Central, para apoiar politicamente no terreno a pequena força insurgente. Marquetalia, o nome da povoação que alberga os combatentes, entra para a história da Colômbia. Em San Miguel, cai em combate um dos mais destacados resistentes, Isaias Pardo. Apesar disso, os 48 guerrilheiros não só rompem o cerco como conseguem sob o comando de Manuel Marulanda Vélez transformar o pequeno grupo na mais importante organização guerrilheira da América Latina.

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Soltas que domingo nos trouxe (sim, também se fala de abstenção neste texto)

Notas muito soltas que vêm do último domingo, mais baseadas nos números do que noutra coisa. Não me apetece, por exemplo, escrever Marinho Pinto mais do que as vezes estritamente necessárias:- resultados finais da votação de domingo, em todos os países da União Europeia, aqui, em Portugal, aqui

– os resultados eleitorais em Portugal reflectem uma realidade que se verificou por toda a Europa, uma maior dispersão de votos pelas forças que normalmente não estão nos governos e uma forte condenação dos partidos que normalmente estão;

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Breves notas sobre a campanha eleitoral

NOTA 1 – PS e PSD-CDS , à semelhança de outras campanhas, trocam acusações parvas entre si como quem joga ping pong. Evocam a Honra, a Dignidade, exigem pedidos de Desculpa, afirmam não ter medo e mandam o adversário ter juízo. Tudo para esconder as profundíssimas semelhanças políticas entre eles. De facto, para encontrar diferenças entre as votações destes três partidos é preciso uma lupa e, ainda assim, será difícil. É a alternância disfarçada de alternativa. Teria graça se não fosse a nossa vida a estar em causa.

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Da inevitabilidade abstencionista *ou um ensaio sobre o abstentor

Dos radicais aos abstencionistas, aos anarcas comunistas, anarco-sindicalistas, debordistas, situacionistas, bakuninistas, proudhonionistas, anti-troikistas e outros istas para os quais ainda não foi inventada um gaveta para que sejam engavetados da forma como engavetam os partidaristas, e, no caso que me interessa, os comunistas (não, estes não estão em itálico porque é mesmo o que nós – eu – somos) tenho vindo a ler os testemunhos prestidigitadores na blogosfera (ainda se usa esta palavra?) com odes à abstenção/reflexão/discussão.

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Marx chegou a Lisboa

Marx chegou a Lisboa. Passou pelo filtro do spam e através da racha na parede. Entrou pelo buraco de um sapato velho. Esgueirou-se numa corrente de ar, quando se esqueceram da porta do centro de emprego aberta. Veio com os cartazes e os panfletos e os grafitis nas paredes. Ler mais