Pódio de classe

pódio

Há um equívoco incompreensível em alguma esquerda que optou, nestas eleições como já havia feito nas Presidenciais, com os resultados que se conhecem, por fazer parte da campanha colocando o combate ao fascismo num patamar de corrida. Afirmar que um partido, seja ele qual for, ficar em terceiro numas eleições é uma derrota do fascismo que, teoricamente, ficaria em quarto, é, no melhor dos casos, ingenuidade; no pior, eleitoralismo e calculismo perigoso para toda a esquerda. Importa, assim, esclarecer alguns aspetos desta estratégia.

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O Chicão é aldrabão

No mais recente debate que teve lugar na RTP3, o ainda líder do ainda CDS teve uma declaração que ficou no ouvido, referindo-se ao “Manel, que está há quatro anos à espera de uma consulta de oncologia”. Confesso que ponderei se valeria a pena gastar tempo e teclas para escrever sobre uma declaração de alguém tão novo e, ao mesmo tempo, tão velho. Porém, até as piores desculpas são bons motivos para escrever.

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Um desgraçado postal com selo PS, PSD, CDS

É possível que poucos se tenham apercebido disso mas, em Novembro de 2020, os Correios de Portugal completaram 500 anos de existência. Não houve grande celebração, que se tenha notado, nem se terão cantado «parabéns» e por uma razão muito simples: a coisa está mais perto da morte do que dos «muitos anos de vida». Mas o postal que ilustra a desgraça da empresa não é anónimo, tem três siglas. As mesmas que há anos se vêm entretendo a fatiar o serviço público entregando-o às «maravilhas» da gestão privada. O resultado está à vista: de entidade pública sólida, confiável e útil, os CTT passaram ao topo da liderança das queixas dos portugueses.

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V: voluntariado

V: voluntariado

Fazer voluntariado é trabalhar gratuitamente. No contexto capitalista, todas as razões são boas para não pagar um salário: a falta de experiência de jovens desempregados e sem contactos no mundo do trabalho; a generosidade das boas pessoas que não se conformam em assistir impávidas ao sofrimento alheio; a ideia de que a cultura não é propriamente um sector profissional normal e que, por isso, é normal trabalhar de borla; a vontade de conhecer pessoas novas e de “crescer espiritualmente”; a autocongratulação moral e a necessidade de autopromoção ou, simplesmente, o preço exorbitante do bilhete de um festival.

De embrulhar prendas para o Continente a controlar portas no Rock in Rio; de pedir comida para os pobres à porta do Pingo Doce a picar bilhetes no DocLisboa; de escrever comunicados de imprensa para a Volvo Ocean Race a distribuir restos de comida na Refood, todas as actividades e profissões são “voluntarizáveis”.

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A pomba vermelha da vontade

I

No início do filme Palombella Rossa, de Nanni Moretti, a personagem principal (Michele Apicella), interpretada pelo mesmo, sofre um acidente de carro que lhe provoca uma curiosa amnésia. Michele Apicella é, além de exímio jogador de pólo aquático, um dirigente comunista. Ora, a nossa personagem principal, após o acidente, logo se lembra de que é comunista – é a única certeza que tem – e repete-o, para ninguém se esquecer, mas não se lembra porquê; não se lembra porque é que outros o são; não se lembra do que é ser-se comunista. Como tal, anda às voltas, tentando convencer-se a si e aos outros, através de chavões e frases feitas, que nunca são suficientes e tampouco eficazes; inconscientemente à espera que algo surja para restabelecer as suas certezas, que algo o relembre da primordial razão, que algo o traga à tona, no pólo aquático e na vida; que algo o empurre para fora dos chavões e o devolva à acção, com a inabalável convicção e a força de vontade que deixara algures esquecidas, entre os cacos dos faróis do carro e a repetição dos dias burocráticos. Mas isto não é uma crítica de cinema.

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U: União Europeia

U: União Europeia

Nem a União Europeia é a Europa nem sair da UE significa necessariamente cair no isolacionismo. A UE é um projecto essencialmente franco-alemão de assimilação política e económica de todo o  continente em moldes capitalistas e imperialistas. À semelhança dos impérios romano, napoleónico ou nazi, a União Europeia tem inscrito no seu código genético uma matriz de interesses que não são comuns a todas as classes sociais nem a todas as nacionalidades da Europa.

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