«Vitória!» A multidão explode num grito longo e encrespado. «Vitória!» repete e prolonga o mar de gente, ecoado no frontão do Palácio de São Bento com a persistência das vagas contra as fragas. «Vitória!» e tremem, no tímpano do palácio, as estátuas moles que enfeitam o estrado. «Vitória», outra vez. Mil vezes «Vitória».
Porquê tanto entusiasmo? Por causa daquelas notícias (talvez ainda se lembrem), de gente suicidada quando o desespero e o governo venceram. Porquê tanta alegria? Porque desta vez perderam os ladrões que roubaram a electricidade e o pão e a água e a dignidade e a esperança aos velhotes da minha rua. Porquê tantas palmas? Porque hoje perderam os milionários e venceram os trabalhadores.
