Todos os artigos: Nacional

Não há neutralidade no espaço público

Desde há séculos que a luta pelo controlo do espaço público é, também, um aspeto da luta de classes. O controlo do espaço é, mesmo entre os animais, essencial para a sua sobrevivência. Uma parte substancial dos animais é territorial, controla uma determinada área onde impõe a sua lei, ainda que possam várias espécies diferentes de animais controlar o mesmo espaço, por exemplo, desde que os interesses de uns não colidam com o interesse de outros. De outro modo, teremos uma luta pelo controlo desse território. No caso dos seres humanos, a luta de classes é inevitável, real, uma vez que há entre elas interesses antagónicos e inconciliáveis.

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Para que nos deixem ver as estrelas

Enquanto ele limpava religiosamente a arma com uma escova de dentes, eu pensava para mim que é a perspectiva revolucionária que devolve a cada comunista o entusiasmo de cumprir cada tarefa independentemente da sua natureza e da distância histórica da ruptura com o capitalismo. Outros, ao nosso lado, jogavam xadrez entre a folhagem verde que durante tantas décadas os protegeu do exército colombiano. O facto é que o entusiasmo, combustível da militância dedicada, fez parte daquele barco com um rumo bem definido que catapultou os povos da Rússia para o assalto aos céus mesmo que, pouco tempo antes dos acontecimentos de Fevereiro de 1917, que foram a ante-sala da tomada do poder pelos bolcheviques, Lénine deixasse no ar que podia não chegar a ver a revolução socialista em vida.

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O racismo não é um papão

"O RACISMO ACORRENTA AMBOS", cartaz do Partido Comunista dos Estados Unidos da América

Recentemente tenho visto alardeada a tese de que o excesso de discussão sobre o racismo na esfera pública potencia o crescimento do racismo. Ora, o racismo não é um monstro que se autoalimenta, e também não é um papão que desaparece se deixarmos de falar dele. Ele tem uma origem definida e serve interesses claros, os interesses da classe dominante.

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Da destruição de símbolos

Que diriam os antigos romanos sobre este intenso debate que agora se despertou em torno das estátuas? Eles criavam figuras de vulto de imperadores, senadores e outras figuras políticas com cabeças amovíveis. Deste modo, quando alguém caia em desgraça, morria por morte matada ou morte morrida ou era destituído, eram também descartadas as suas imagens e, admitamos, era mais fácil trocar a cabeça do que o corpo inteiro. Nada de memórias escrupulosas.

Serviu esta introdução para dizer que estátuas, antes de obras de arte, são símbolos. E que, embora o património cultural seja decretado, na realidade, ele só o é de facto quando tem relevância para a identidade colectiva de um povo. Não coincidindo muitas vezes, por excesso ou omissão o decretado com o efectivo. Ler mais

Portugal e a Tragédia Brasileira: O Grande Silêncio

Já ninguém se lembra da presença ufana e folclórica de Marcelo na tomada de posse do «irmão» Bolsonaro. Nem dos elogios apaixonados à forma tão «prestigiante e afável» como Portugal fora recebido por aquele tão recomendável leque de governantes. Foi bom estar ali, dizia Marcelo, e acrescentamos nós: ali, lado a lado com pastores fanáticos de seitas religiosas, ignorantes funcionais, citadores de figuras nazis, o mais hediondo grupelho de ministros alguma vez empossado naquele país. Marcelo tinha ido ao beija-mão solene de uma das mais sinistras figuras da história contemporânea do Brasil, que, entre inúmeras pérolas, já naquela altura tinha no curriculum das misérias morais o ter dito que não «estuprava» mulheres porque não mereciam. Era a tomada de posse de alguém que já não escondia quem era, nem ao que vinha. Mas já ninguém se lembra e sobretudo agora também não interessa lembrar. A mesma comunicação social que promove os «afectos», também não deixa de silenciar as «patadas». «E daí?»

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Pablo Hasel, o twitter e o ex-monarca Juan de Bourbon

Menos de 24 horas depois da confirmação da pena de prisão aplicada ao cantor de hip-hop comunista Pablo Hasel a imprensa espanhola dá a conhecer novas investigações sobre alegados crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais associados a Juan Carlos I de Bourbon, o ex-monarca espanhol que abdicou a favor do seu filho, Felipe VI. A ironia da coisa: a condenação de Hasel tem por base tweets nos quais o cantor denuncia o carácter retrogrado e corrupto da monarquia espanhola.

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América em chamas

Ahmaud Arbery, Breonna Taylor, Walter Scott, Tamir Rice, Philando Castile, Samuel Dubose, Terrence Crutcher, Trayvon Martin, Eric Garner, Oscar Grant, George Floyd. São negros, americanos, executados, abatidos como animais. As suas mortes percorreram o mundo. Assistimos aos olhos de uma pessoa, com quatro três homens em cima dele, a fazer força com os joelhos no tronco e nas pernas e a sufocá-lo com o joelho depois de o espancarem brutalmente dentro e fora do carro da polícia. Uma mulher que dormia e foi perfurada por dezenas de balas porque a polícia procurava um suspeito já detido e ainda acusou o seu companheiro por ter disparado contra um polícia que foi baleado por outro polícia. Ser negro nos EUA significa que não se pode falar quando a polícia chega. As mãos ficam no volante. Ninguém se pode mexer. A primeira coisa se te mandam atirar ao chão é atirares-te ao chão e ficares calado porque estão doze polícias com uma arma no ar e a qualquer gesto matam-te. Não te prendem. Ler mais