Todos os artigos: Nacional

Marcelo, o moralista selectivo

Marcelo, o político pós-político, tem dedicado boa parte da sua asfixiante presidência à proclamação de princípios gerais de uma ética redonda, com a qual todos (ou quase todos) estarão de acordo. Nas recentes comemorações do 5 de Outubro, retomadas depois de alguns anos de interrupção reaccionária, Marcelo optou por enviar recados à chamada “classe política”, expressão mediática que procura meter no mesmo saco pessoas e organizações que na prática quotidiana não apenas representam ideias e comportamentos distintos, como o fazem em defesa de projectos políticos muito diferentes. Ora, o que Marcelo disse não levanta grandes objecções em praticamente nenhum sector da sociedade portuguesa. E por isso, o problema não é o que disse, mas antes o que fez e faz.

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Património é História. A História não se privatiza.

A cultura e o património devem ser vistos como um elemento que potencia o turismo, o que é muito diferente de dizer que devem ser geridos como as atracções de um parque de diversões.

Os vários Governos, dirigidos pelos partidos de organização e orientação burguesa – PS, PSD e CDS – têm vindo a conceber a política de cultura e património alinhados com a tendência que vai marcando as grandes capitais europeias, ou seja, a da gestão do património e das manifestações culturais como se de meras atracções turísticas se tratassem. Além de ser uma perspectiva redutora do potencial das expressões culturais e do património, é uma política que resulta na mera mercantilização do património. Se o património e os hábitos e tradições se tornam meras atracções, as pessoas tornar-se-ão figurantes.

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Opinião: A demagogia de Câncio

Em primeiro lugar, #foraTemer, em segundo lugar, há muito que, pela minha sanidade mental (e pela dos que me rodeiam) que também eu deixei de ler muitas das opiniões que grassam na imprensa nacional. Isto porque prezo demasiado o estudo, o conhecimento, o debate e incomoda-me que se tratem assuntos que são de especial relevância para a nossa vida do alto da burra.

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A classe de João Miguel Tavares

Decidi há uns tempos, por uma questão higiene mental, deixar de ler algumas pessoas. Não é porque discorde deles. Tenho, felizmente, muitos amigos e autores de quem discordo mas que não deixo de ler. É mesmo porque é uma perda de tempo ler imbecilidades e, ainda mais, discordar delas. O desobrigador arquitecto Saraiva, João Lemos Esteves, Alberto Gonçalves e  João Miguel Tavares estão entre os eleitos que optei por não acompanhar, nem para ter o prazer de discordar deles. Mas, como sempre, a excepção que confirma a regra aconteceu hoje, porque me saltou à vista uma declaração do interveniente do Governo sombra, da TSF, e prolixo autor de obras como “A crise explicada às crianças de esquerda” e “A crise explicada às crianças de direita”.

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Para que não haja dúvidas, este texto é sobre o Pedro Passos Coelho ter sido desobrigado pelo arquitecto Saraiva

Um arquitecto Saraiva que é jornalista, que escreve livros e que escreve crónicas sobre pêlos, elevadores e outros elementos do seu dia-a-dia cosmopolita. Um ex-primeiro ministro e ora líder da oposição Pedro Passos Coelho que é político, que é quase africano e que prevê a chegada do diabo à Terra para breve. Um livro badalhoco chamado “Eu e os Políticos”, escrito pelo arquitecto Saraiva, e uma apresentação de livro aceite pelo PPC, que entretanto foi desobrigada e que entretanto até já nem se vai realizar por motivos de segurança. Uma editora chamada Gradiva que ainda deve estar a pensar porque raio é que editou este livro. Seja liberal se lhes compro mais algum…

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Isto é tudo uma grande média

Grande parte do que havia a ser dito sobre impostos e classe média já foi dito aqui e aqui. A vantagem do sistema capitalista, sem ironias, é a capacidade evidente que possui para se manter exactamente igual enquanto se anuncia a sua modernização, a sua adequação às necessidades e anseios das populações. A enorme dificuldade em tipificar a classe média é uma grande vantagem do sistema dominante. A impossibilidade de sabermos se a classe média, se o é, é-o através do rendimento mensal, da forma como é obtido esse rendimento, do rendimento mobiliário e imobiliário. Ninguém sabe. E isso é óptimo, porque qualquer um pode ser classe média, desde que olhe para um lado e veja alguém mais pobre; para outro e veja alguém mais rico.

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Culsete

A censura do lápis azul, da apreensão de livros e da perseguição de autores (e leitores) deixou de fazer sentido neste início de milénio, pelo menos nesta geografia que é a nossa. O cheiro a queimado das pilhas de livros ardendo na praça pública é um anacronismo neste momento histórico; as pilhas de livros em chamas seriam mais perigosas para o sistema – funcionando como golpe de marketing, atraindo atenções para títulos, autores e editoras obscuras – do que o destino de morte lenta a que parecem condenados os títulos mais subversivos. O desaparecimento das livrarias independentes – e a sua substituição por um assustador nada, apenas aparentemente ocupado pelas grandes marcas livreiras, nacionais e multinacionais – joga neste processo um papel central. A Culsete, livraria setubalense com 40 anos de história, ponto de encontro de livreiros, escritores, editores e leitores, encerrará brevemente as suas portas. A cidade fica mais pobre. Portugal fica um pouco mais à mercê da orweliana novilíngua do regime.

Portugal, um país de ricos e abastados

Não deixa de ser irónico que dois dias após o alarme social criado em torno da morte da classe média com a tributação do património imobiliário superior a 500 mil euros e que iria, de acordo com os opinadores e os mais excelsos especialistas em economia (de economistas, certamente, terão pouco), afectar milhares de portugueses, surjam estudos a dizer o que todos já sabemos, que todos (é incrível, não é? todos os anos os estudos demonstram os mesmos dados) anos se repete: mais de dois milhões vivem abaixo do limiar da pobreza em Portugal.

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