A mão que embala o berço

Passos Coelho devolveu a Ricardo Salgado a carta em que o banqueiro apelava a uma intervenção do Governo na salvação do Grupo Económico. Mas Ricardo Salgado leu-lha. Passos Coelho fica assim liberto da prova material, mas isso não o iliba do facto de ter sido um dos que soube do conteúdo da carta, tal como a Ministra das Finanças e o Presidente da República a que se acrescenta Durão Barroso, o extraordinário português que tanto beneficiou a sua pátria ao desempenhar os mais altos cargos internacionais.

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O mata-oito – até agora

Há 14 dias, escrevia-se aqui que Paulo Macedo continuava sem se demitir, após duas mortes em salas de espera de hospitais. Hoje, o número chegou a oito e continua a não haver notícias de demissão. Nem notícias do ministro, que apareceu há cerca de uma semana a dar umas desculpas esfarrapadas, em jeito de “vamos apurar” e “vamos investigar”. Esta espécie de país está assim. A morrer aos bocadinhos, à espera, ao abandono, às mãos de criminosos, às vontades que já não são obscuras – são clarinhas como água – de um bando. Não é um gangue porque a intimidação é mais subtil e surge através de taxas moderadoras que de moderadas têm quase nada.

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Um novo ano, uma nova Europa

A crise europeia continua bem presente nas nossas vidas, quem só ouvir os discursos da propaganda habitual poderá, por breves momentos, pensar que vivemos na Europa do progresso e que estes anos de recuo foram um lapso que será rapidamente corrigido por actos messiânicos, que prometem elevar a União Europeia (UE) à sua posição de potência mundial. A realidade mostra-nos uma UE a trote dos poderosos, um mercado único que vende a dignidade humana como outra qualquer commodity e políticas comuns que acentuam a, já evidente, divergência entre países. O domínio económico cresce com as assimetrias de crescimento impostas pelos mecanismos criados e apoiados por PS, PSD e CDS. Pelo caminho, o capital voraz serve-se dos reféns do euro para engolir todos os serviços públicos e funções sociais do Estado, sobre a égide das que se chamam “reformas estruturais”. Aos trabalhadores ficam as dívidas ilegítimas, deixadas para trás por governos em conluio com a alta finança, que especulou, e especula, com dinheiros público e privados num deboche cuja dimensão estamos longe de saber o fim.

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Eles vivem acima das nossas possibilidades

Em 2008 era assim. Por incrível que pareça, e apesar da campanha ideológica de apologia da distribuição de rendimentos do Ocidente, a verdade é que cada um dos 100 mil portugueses mais ricos têm um rendimento superior a cada um dos 13 500 milhões mais ricos da República Popular da China ou do que cada um dos 12 milhões de indianos mais ricos.

Apesar de os Estados Unidos terem um PIB 60 vezes maior que o de Portugal, e apesar de os 1% americanos corresponderem a 3.200.000 pessoas (32 vezes que os 1% portugueses)  cada um dos 1% mais ricos de Portugal conseguem obter praticamente o mesmo que cada um dos 1% mais ricos americanos. Quem é que anda a viver acima das nossas possibilidades?

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Labrincha, desincha e passa

Que o João Labrincha (quem? pois.) confunde bastante a realidade que existe com a realidade que ele gostava que existisse, já todos sabemos. Que gostaria de ser um grande líder dos intelectuais e dos burgueses, também sabemos. O que não sabemos de João Labrincha?

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“Teorias da conspiração”

Nota prévia: este post não é sobre os acontecimentos de Paris.

É sabido que, perante acontecimentos inesperados e altamente mediatizados, existe uma tendência evidente e quase incontrolável associada ao surgimento das chamadas “teorias da conspiração”. Estas “teorias” são geralmente explicações alternativas para os incidentes a que se referem, nuns casos fantasiosas e construídas com base em pressupostos errados ou simplesmente falsos, noutros casos nem tanto.

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Não há unidade – nem republicana, nem democrática nem ocidental

Esta é mesmo das raras fotografias que vale mais que mil palavras. Os líderes das chamadas “democracias ocidentais” desfilaram juntos pelas ruas de Paris, unidos contra o terrorismo e em defesa da liberdade. Juntos, mas longe de toda a a gente, numa rua deserta e cercados de seguranças, porque a segurança deles termina onde começa a nossa liberdade. A fotografia não é só poderosa porque nos mostra Hollande do outro lado do espelho e a encenação por detrás das câmaras, mas é igualmente a demonstração sobrante do que eles querem dizer quando falam de liberdade de expressão: uma farsa. Afinal, a manifestação deles era como a sua liberdade, só para alguns.

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Porque se indignam eles

Na televisão, ontem, numa reportagem sobre a concentração em Lisboa sobre a tragédia de Charlie Ebdo, uma jovem emocionava-se. Porque se emocionaram ontem aquelas pessoas, melhor dizendo, porque é que apenas ontem se mobilizaram aquelas pessoas? Emocionam-se sempre que há notícia de tragédia ou terá sido só mesmo ontem?

Porquê apenas agora a comoção? Descobriram que a morte é sinistra e pode ser injusta? Mas será que só esta semana é que descobriram que há gente massacrada neste planeta, que há vitimas inocentes?

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