Imaginem que um músico norte-americano de rock fazia uma digressão pela América Latina e se tornava fervoroso apoiante das lutas da classe trabalhadora. Imaginem que decidia viver na Alemanha mas do lado certo do muro. Imaginem que se tornava num dos maiores ícones culturais e mediáticos do Leste Europeu produzindo não só música mas também participando em filmes e escrevendo livros.
Abril, exclama-se!
Nasceu a 10 de Abril e fez quarenta anos este ano.
Enquanto falávamos das notícias eu disse-lhe «imagina que o Governo ia agora a qualquer sítio e, de repente, os militares cercavam o edifício e o pessoal ao saber disso enchia as ruas e não os deixava sair…
– Os militares? Tinham que ser os militares?
– Não sendo, provavelmente vinham os robocops e apanhávamos todos porrada.
– Mas estás a dizer isso no dia 25?
– Um dia, um dia qualquer!
– Não. Foi isso que aconteceu? No dia 25? Estou farta de perguntar, nunca ninguém me explicou!»
Paulo Portas e outros tantos mentirosos
“O senhor diz que uma série de pessoas saíram do RSI, esquece-se de dizer que essas pessoas deixaram de ter rendimento mínimo porque, por acaso, tinham mais de 100 mil euros na conta bancária.”
De quem é esta frase? Do vice-primeiro ministro, Paulo Portas. A afirmação é verdadeira? Não. Então porque se sente no direito de mentir o vice-primeiro ministro Paulo Portas? Mais, porque se sente no direito de mentir em pleno Parlamento?Porque se sente impune e porque uma das maiores e mais eficazes armas que este governo utiliza é a mentira descarada e a manipulação dos números. Esta arma não é nova, e nem sequer exclusiva deste governo, digamos que, principalmente, desde os tempos do cavaquismo, ela tem feito o seu caminho e ganho a sua importância.
Sem anos de solidão
Eu podia contar-vos tantas coisas dessa terra que nunca pisei mas da qual tanto me falaram. Desse país com nome de conquistador onde os seus habitantes nunca se vergaram ante a opressão. Da Colômbia em que a oligarquia rasga as veias de um povo que nunca deixou de amar no meio da cólera de todos os tempos. Foi para arrancar essa terra e essa gente do silêncio podre que Gabriel García Márquez nos trouxe Macondo. É que Gabo nunca escondeu que pouco recorreu à imaginação. O que lhe custava era a invenção de recursos para fazer da realidade algo verosímil.
Obrigado camarada, até sempre!
“Foi uma breve, mas intensa semana em que tive ocasião de conversar com ministros e operários, com escritores incrédulos e comerciantes assustados, com dirigentes inseguros e com militares seguros do seu poder e com nenhum bispo (…) Nos restaurantes caros, onde os mariscos são exibidos como jóias nas montras, os burgueses em retrocesso desancam verbalmente os comunistas. (…) Nos restaurantes populares, os empregados perguntam se deve receber gorjeta”
Gabriel Garcia Marquez in Portugal, território livre da Europa
Os sábios
Escreve o Expresso que os “sábios” que o governo convidou para estudarem questões ligadas à segurança social e a eventuais reformulações no sistema de pensões estão “furiosos”. A razão da fúria parece ser sentirem-se utilizados pelo governo que nunca os ouviu verdadeiramente, e que agora anuncia – pela voz do primeiro-ministro – que uma solução que desconhecem está já desenhada para destruir um pouco mais (ou então totalmente, não se sabe bem…) a segurança social pública, solidária e universal.
Gabo: Sem perdão
Há coisas que não se perdoam, mesmo àquelas pessoas que consideramos as melhores no que fazem. E eu sou péssimo a perdoar, mesmo reconhecendo razão à minha professora de inglês do 10.º ano, Luísa Félix, quando me confrontou com a questão evidente: “Mas não gostas de ser perdoado?”.
Gabo é imperdoável. O que ele fez não se faz à Humanidade, essa coisa estranha daquelas partes do mundo onde há pessoas humanas, expressão que roubei descaradamente a uma amiga.
Política e Geometria 3
O Governo Sombra, que começou por ser transmitido apenas na rádio, passou depois para a televisão e agora é repetido umas duas vezes na televisão ao fim-de-semana, tal não é o seu sucesso (ou tal não é a falta de investimento em programação destes órgãos de comunicação social), é o mais lúdico dos programas de debate político ou não fora a presença de Ricardo Araújo Pereira, que não só anima o programa com o seu inegável sentido de humor como, com alguma diplomacia associada a esse humor, vai largando tiradas que tornam o programa tolerável. Tolerável é a palavra certa, porque um outro interveniente no programa, João Miguel Tavares, desequilibra a balança da qualidade com as suas saídas pretensamente informadas, pretensamente críticas, pretensamente inteligentes, atropela as intervenções dos outros participantes e até dá a sensação que tem autorização superior para o fazer. Ler mais