Uma maré que se vai levantar

Olha, desculpa lá. não percebi bem… quem é que era sereno? A sério, repete-me outra vez porque é que isto tinha que ser sempre a mesma coisa, que no fundo, no fundo isto iria ser sempre entre o PS e o PSD. Explica-me novamente porque é que no fundo não há alternativas, porque as pessoas não votam neles, pá, porque já se sabe, é assim no mundo todo: votamos no PS porque estamos desiludidos com o PSD e depois (toma!) votamos no PS para o PSD aprender a não nos desiludir. Ler mais

Palavras (novas), para quê?

No nosso manifesto comprometemo-nos a lutar “contra a exploração e o capitalismo e contra as máscaras que os ocultam”. Hoje apetece-me desmascarar. A linguagem é uma das ferramentas mais eficazes para ocultar seja o que for, e todos os dias, e cada vez mais, somos bombardeados com palavras e expressões que mais não são do que complicadores de informação e suavizadores da realidade. Ler mais

“Não quero medalhas, quero que os cidadãos deste país protestem livremente e de forma digna”

O Chalana é já um ilustre desconhecido. Daqueles que mudam o mundo todos os dias. O Chalana não se verga. Há pouco tempo, o Público fez uma reportagem com base no trabalho de Chalana como assistente social. Um dos esquecidos, esperava por uma operação. Entretanto, poucos dias depois da publicação da reportagem, morreu. Chalana volta aos mesmos bairros, todos os dias. E vê o país como ele é. Ler mais

A revolução não passa na televisão

Enquanto Nelson Mandela é recordado nas televisões por aquilo que nunca foi, começou em Quito o Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes. Depois da África do Sul, é a vez do Equador receber jovens de todo o mundo. Encabeçando os ideais por que se bateu o histórico resistente sul-africano, dezenas de milhares de raparigas e rapazes de centenas de países protestam contra o imperialismo e reclamam pela paz e justiça social. Precisamente porque esta notícia só tem lugar no caixote de lixo das redacções é a prova de que não querem saber de Nelson Mandela. Ler mais

Estátuas

Saramago dizia que a estátua é a superfície da pedra. Tinha razão, a estátua é só  mesmo isso: pedra a que alguém descascou gomos de revestimento. Porque os nossos olhos são feitos de carne, é o mundo exterior que melhor enxergam e, às vezes, a ilusão de que se revestem as estátuas fá-los chorar. Hoje, os meus olhos foram embargados pelas brutais imagens de uma turba no centro de Kiev a destruir, a golpes de martelo, a estátua de Lenine. Mas a fúria das multidões como as estátuas que elas decapitam, são apenas um revestimento político externo de fenómenos políticos que só se podem assimilar verdadeiramente através identidade dos que desferem as marteladas. Ler mais

Sobre a pobreza em tempos de caridadezinha

Li no mural do facebook de alguém que entre o Orçamento do Estado e as medidas de ataque aos trabalhadores da Administração Pública já o «Guião para a reforma do Estado» vai no adro. E que verdade tão verdadeira.

Entre promessas de alteração da Constituição e a sua alteração diária via medidas orçamentais e leis ordinárias, muitos dos direitos são já subvertidos e a CRP perigada e reconfigurada. Hoje já um em cada quatro portugueses está em situação de carência alimentar. Ler mais

Memórias de infância: Angola, Cuba, Mandela

Lembro-me de quando cheguei a Portugal, em finais de 1982, a poucos dias de completar os meus oito anos, perguntar a toda a gente com quem é que estávamos em guerra, quem é que os portugueses combatiam. Estranhava a ideia de não viver mais num ambiente de conflito armado. Para mim o estado normal de existência era o da guerra. A guerra é uma dor continuada a que nos habituamos sem nunca deixar de doer, é como um frio que se entranha nos ossos e com que somos obrigados a conviver, e agora é para mim uma memória longínqua da qual sobressaem os episódios mais marcantes.
Não sei se o meu ódio de hoje a explosões tem alguma coisa a ver com memórias conscientes e acontecimentos esquecidos. O facto é que de cada vez que vejo e oiço notícias sobre bombardeamentos imagino-me como uma criança, num cenário de guerra, perdida e assustada com o ruído de explosões que ocupam todo o espaço, que ensurdecem, nos paralisam e nos impedem de gritar. Ler mais

Memória

Ainda que me cause a mais intensa repulsa, não perderei tempo lembrando caso a caso a suprema hipocrisia das declarações de circunstância daqueles que dizem hoje o contrário do que fizeram ontem a propósito de Nelson Mandela e da libertação da África do Sul do jogo fascista do Apartheid. É informação que, pelo que percebo, flui pelas redes sociais nestas horas que passam. Ler mais