O Afeganistão progressista que alguns tentam esquecer

Ninguém consegue ficar indiferente ao que se passa no Afeganistão mas sejamos claros. A tragédia não começou agora e também não começou há 20 anos. Se há quem ingenuamente possa pensar que a política norte-americana naquele país era o de garantir os direitos das mulheres, das minorias e dos trabalhadores está enganado. O único regime que garantiu direitos, liberdades e garantias para as afegãs e para a maioria trabalhadora foi assediado militarmente pelos mujahidins com o apoio de 4 mil sauditas, incluindo Osama Bin Laden, todos financiados, treinados e armados pelos Estados Unidos e pelo Paquistão. A organização e muitos dos homens que atacaram as Torres Gémeas a 11 de Setembro de 2001 são produto das escolhas de Washington.

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Candidaturas Tiririca: Quem ganha com isso?

Há uma diferença abissal entre usar humor na política e ter uma política que nada mais procura ser do que humor. Nesta campanha ou pré-campanha para as autárquicas temos assistido a um aumento exponencial de candidatos-palhaço, que exploram com sucesso tudo o que garanta parangonas, de gente que brinca aos outdoors, aos slogans, que anseia pelas partilhas e sobretudo pela fama. Haverá várias explicações para o fenómeno, desde logo pela força presente do terreno virtual, mas uma das que quero aqui salientar é o imanente sentimento de desprezo, de menorização do acto e até dos cargos em questão da parte de quem leva a cabo uma campanha de puro e duro espalhafato. Porque não se trata só de desprezo e menorização do acto eleitoral em si; trata-se de desprezo e menorização da democracia como um todo.

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Prostituição, academia e género: a armadilha triplica no feminismo contemporâneo

PARTE I 

Quando comecei a escrever este texto pensei em chamar-lhe, como título, algo do tipo: «As armadilhas obscurantistas do pós-modernismo académico e o seu papel nada inocente na alienação de movimentos sociais como o feminismo contemporâneo tendo como zonas de guerra os temas prostituição e género». Às tantas, senti que corria o risco de se tornar um título demasiado longo. Sendo este o meu primeiro contributo no Manifesto74, não quis parecer aquilo que sou: uma mulher comunista zangada e snobe. Optei por uma solução mais sintética, mas será sobre tudo isto que tratarão os meus cinco cêntimos para a discussão.

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Somos da terra

Se é daqui que vos escrevo, se é debaixo deste sol de calor efémero que faz por aquecer a pedra do socalco que sustenta a vinha, se é daqui que vejo os rostos enrobustecidos à conta dos ventos nortenhos, de séculos de idade, que rasgam a paisagem duriense; rostos porém ternos, que miram ainda o rio serpenteando lá em baixo, como se olha um filho, endeusando-o, é então sobre este Douro também que me apresento ao Manifesto74.

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Histórias que a Cidade não conta

Para Orquídea era o morto que partia, só ele; e cá em baixo a vida persistia, mas uma vida dissoluta, de madrugada sem forças, (…) A vida tornava-se àquela hora quase intransitável, uma comédia tão torpe, uma beberagem tão repulsiva…

Urbano Tavares Rodrigues in Aves da Madrugada

A cidade de Lisboa, tal como outra qualquer, é um organismo vivo, é uma peça de teatro intempestiva, é um constante improviso que se conjuga numa harmonia que estranhamente flui e faz mexer cada órgão.

Infelizmente, o neoliberalismo, ideologia dominante na Europa, fomentador do individualismo desenfreado, tem tentado impor a ideia da cidade enquanto a forja de mais riqueza para o capital que, por via do trabalho, açambarca a mais-valia de quem todos os dias sai do seu “dormitório” para trabalhar. Aos olhos de hoje, a cidade, em que Lisboa é o exemplo perfeito, não é mais um organismo. É sim, um conjunto de operações de loteamento individuais que, graças à mão imaginária do mercado, se acaba por conjugar e fazer uma cidade. Nada mais é do que um somatório de edifícios e equipamentos que, se magicamente corresponderem a determinados critérios, poderá eventualmente ser considerada uma cidade. Não é um sítio para se viver, nem para se trabalhar. É um sítio para se dormir, com ou sem teto, com ou sem saneamento ou condições. É sobretudo um espaço de aprofundamento das desigualdades e da exploração.

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Quando Fidel Castro levantou um paralítico que era apenas terrorista

Armando Valladares foi polícia da ditadura de Fulgencio Baptista. Depois da revolução cubana, em 1959, protagoniza uma campanha de atentados contra o país. As vítimas foram numerosas e a maior parte era constituída por civis. No dia 4 de Março de 1960, faz explodir o navio belga ‘La Coubre’ e como resultado da acção terrorista morrem 101 pessoas. Nesse mesmo ano, Valladares é preso enquanto preparava um novo atentado. O tribunal condena-o a 30 anos de prisão.

Nos anos 80, com Reagan na presidência dos Estados Unidos, será utilizado para tentar descredibilizar a revolução cubana e inventa um passado de poeta, com o livro Na minha cadeira de rodas. Armando Valladares finge-se paraplégico e lança-se uma campanha mundial pela sua libertação. As autoridades cubanas não cedem.

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N: natureza humana

N: natureza humana

Uma das vacas sagradas da ideologia dominante é a ideia de que a humanidade está condenada pela sua própria natureza a ser para sempre como já é hoje: egoísta e  individualista, pelo que qualquer projecto de sociedade assente noutros valores e contrária a estas características estaria, portanto, condenada ao fracasso.

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M: Materialismo e idealismo

M: Materialismo e idealismo

O idealismo é o processo de pensamento assente no primado das ideias sobre a natureza. Ao contrário dos materialistas, que vêem na natureza a base sem a qual as ideias não existem (não há ideias sem cérebro, não há cérebro sem células, não há células sem átomos, não há átomos sem matéria), os idealistas garantem que a verdade não existe a não ser dentro dos nossos cérebros pelo que as abstracções só se podem entender em função de outras abstracções. É desta forma que os idealistas desligam a verdade da realidade social, histórica e económica, recorrendo ao espírito, à moral e aos impulsos para explicar o mundo. Os materialistas, em sentido inverso, procuram na natureza, nas relações económicas e no contexto social a explicação para a cultura, para a religião e para a ideologia.

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