As mãos de Víctor Jara

11 de Setembro de 1973. Avançava, Santiago adentro, o golpe militar fascista financiado pela CIA – e antecedido por um bloqueio económico – que levaria Augusto Pinochet ao poder. Ao longo dos 17 anos que se seguiram, muitos foram perseguidos, mortos, torturados, presos ou exilados, por se oporem à ditadura militar, fruto do famigerado Plano Condor, que se propôs, através da repressão, a desmantelar quaisquer tentativas de construção do socialismo, na América Central e do Sul, introduzindo ainda políticas de mercado livre cujas nefastas consequências se vêem ao longe.

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Chão nosso

Do outro lado da margem um aglomerado salta à vista, de flâmulas vermelhas esvoaçantes e uma bandeira ao alto, cujo símbolo não deixa nada ao desengano. A foice, o martelo e a estrela em amarelo em pano vermelho vivo, sentinela de um tempo que marcou para sempre a vida dos trabalhadores rurais e industriais, dos do mar e da terra, dos do chão e do ar, dos que aprenderam o que é a unidade e dos que ainda a verão adiante.

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Hiroshima nunca mais!

Há 78 anos, com o Japão já encostado às cordas ao fim de 4 anos da guerra no Pacífico e o Exército Vermelho em condições de se juntar aos aliados nesse teatro de guerra, os EUA antecipam-se pelo controlo do Pacífico e largam uma bomba atómica em cima de Hiroshima, a Little Boy, uma bomba de Urânio. 70 mil pessoas tiveram morte imediata numa bola de fogo e luz mais quente que a superfície do Sol, tão quente que as sombras das vítimas e de outros objectos ficaram gravadas no chão e nas paredes em que foram projectadas. Outras 69 mil pessoas ficaram contaminadas pela radiação nesse momento e acabaram por falecer, dias, meses ou anos mais tarde, das consequências dessa contaminação – no Japão chamam-lhes Hibakusha – “vítimas da bomba”. Um número incalculável de pessoas de gerações posteriores continuou a nascer e a morrer com malformações, cancro, leucemia e outras complicações, uma consequência da contaminação radioactiva. Nesse mesmo dia, o governador de Hiroshima informou o imperador Hirohito que um terço da população morreu e dois terços da cidade foram destruídos.

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Os ventos de África

De tempos a tempos, em Portugal, fala-se muito de poeiras vindas de África trazidas pelo vento, que deixam o céu escuro e o sol escondido por trás do que o Sahara faz questão de partilhar connosco, que causam dificuldades respiratórias, chegam ao retângulo e nos cobrem de um manto que não nos deixa ver mais longe. Uma espécie de nevoeiro que cobre a visão e só nos permite ver pouco mais do que o nosso umbigo. Enquanto isso, em África, parece haver novos ventos que se levantam, com uma clareza e objetividade que não temos por cá.

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Rogeiro, o especialista

Nuno Rogeiro apareceu no espaço público no começo das década de 90 do século passado, como especialista em coisas, nomeadamente, várias. Ao longo dos anos, foi passando por vários Órgãos de Comunicação Social, vendendo as suas análises sempre sábias e assertivas, com mais certezas que dúvidas, o que não deixa de ser curioso para quem se debruça sobre Relações Internacionais. Rogeiro tem hoje, com José Milhazes, um programa na SIC, onde debita tantas mentiras e manipulações que há um utilizador, no Twitter, que tem uma thread – uma cadeia de tweets – com mais de 200 desmentidos. Trata-se de Luís Galrão e é verificador de factos, cujo trabalho é de acompanhamento obrigatório, não só sobre este assunto como muitos outros.

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Uma chamada à consciência global

A luta por ambiente ecologicamente equilibrado e sadio tem ganhado, ao longo dos últimos anos, especial atenção por parte da população e tem reunido esforços redobrados por parte de vários setores da sociedade. Porém, quando nos deparamos com a retórica ambientalista, geralmente, intrinsecamente liberal, vem muitas vezes atrelado um discurso pacifista altamente enviesado, classista e até neocolonialista. Tal é visível no que diz respeito à postura que assumem perante os conflitos globais, num dilema entre “guerra boa” e “guerra má” e, por outro lado, num paradoxo de condenação dos países menos desenvolvidos que procurem trilhar o seu caminho de desenvolvimento, quando o norte global nunca foi impedido de cometer erros pelos quais ainda hoje andamos a pagar a fatura.

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Olas de Recuerdo

Foto: Bruno de Carvalho

Durante a noite, recebi a notícia da morte do comandante Iván Márquez. Entornei um pouco de rum num copo e bebi-o de um trago ao som de Julian Conrado. Lembrei-me daquela manhã em que os guerrilheiros se riram comigo. “Que raio de narcoguerrilha é esta sem álcool nem drogas?”

“Periodista, nosotros no producimos drogas. Cobramos impuestos a los que las producen. Aquí es prohibido consumir drogas y solo se puede tomar alcohol en celebraciones especiales”. A verdade é que não toquei numa gota de álcool naquele mês, em 2017, quando estive escondido com as FARC nas encostas da Sierra del Perijá. O processo de paz já tinha começado mas os principais comandantes diziam-me que era proibido o acesso permanente de jornalistas dentro dos acampamentos. Então, meteram-me no coração daquela cidade de ‘cambuches’, como chamavam às construções artesanais de barracas de madeira e tela, onde dormiam os guerrilheiros. Eu dormia numa tenda com um camuflado militar e todas as manhãs, sem falta, às cinco, um combatente, geralmente, o que estava de turno de guarda, ia de cambuche em cambuche simulando o chilrear de um pássaro para nos acordar a todos.

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O governo da colónia faz parte do império

Manifestação nacional CGTP-IN, 18 de Março de 2023. TIAGO PETINGA/LUSA

No mesmo dia em que os trabalhadores portugueses respondiam à chamada da CGTP-IN para a realização de um dia nacional de luta “Aumentar salários | Garantir direitos | Contra o aumento do custo e vida – Pelo direito à saúde e à habitação”, Lagarde anuncia que as taxas de juro do BCE vão continuar a subir, sendo a próxima subida já em Julho.

Terminou aliás nesse dia, 28 de junho, o encontro Fórum BCE, que se realizou em Portugal, supostamente para determinar as grandes causas da inflação e as respostas adequadas, juntando governadores dos bancos centrais (que é como quem diz, funcionários administrtaivos do BCE), decisores políticos (que é como quem diz governantes eleitos pelos povos mas ao serviço dos grandes grupos económicos) e “especialistas” no assunto.

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