A revolta invadiu o bairro Bosque Calderón, uma das zonas mais pobres de Bogotá, onde vivia Yuliana Samboní. Esta menina colombiana de sete anos foi raptada por um abastado arquitecto. Depois, Rafael Uribe Noguera torturou-a, violou-a e matou-a. Há quatro anos, também na capital colombiana, Rosa Elvira Cely havia sido brutalmente violada num parque por dois homens. Morreu quatro dias depois nas urgências do hospital com os órgãos internos destruídos pelos ramos de árvore que usaram para a violar.
Cada partido é como o seu congresso
Decorre até ao final deste fim-de-semana, em Almada, o XX Congresso do PCP, reunião magna que, no entanto e sem que desse conta a comunicação social já começou há meses.
Ao contrário da maioria dos outros partidos, em que os Congressos são eleições ou coroações, os congressos do PCP representam o culminar de um vastíssimo processo de discussão. Ao todo, de acordo com Jerónimo de Sousa, terão sido mais de 2000 reuniões em que participaram cerca de 20 000 militantes. Para fazer um congresso que comportasse a amplitude destes números, qualquer outro partido precisaria não de três, mas de 500 dias.
O choque da pobreza cubana
A morte de Fidel foi mais um pretexto para a o avanço da ideologia dominante na propagação da ideia de que ou há este caminho ou não há caminho nenhum. Da social-democracia mais à esquerda ou mais à direita, poucos são os que têm coragem de assumir que as conquistas cubanas são tão profundas e importantes que não podemos compará-las com as democracias haitianas, porto-riquenhas ou dominicanas. É que, por incrível que possa parecer, é com esses países que Cuba deveria ser comparada. Porque foram países brutalmente colonizados, explorados nos seus recursos e nos seus povos. Porque era lá que os homens de família que deslocavam em negócios de saias, enquanto enchiam a boca com o moralismo e a santa madre igreja. No entanto, o progresso cubano foi tão expressivo que o comparamos com os países desenvolvidos, ou exploradores, como preferirem. E, por incrível que possa parecer, Cuba supera esses países em categorias tão importantes como a saúde infantil, materna, educação, tratamento do HIV, acesso à habitação. Mas o que importa isso?
Fidel e eu [texto originalmente publicado a 22.03.2016]
A visita oficial do presidente dos Estados Unidos da América a Cuba é um momento particularmente sensível no debate político e ideológico no plano nacional e internacional. Contra os comunistas portugueses, por exemplo, são arremessadas as velhas e gastas acusações de sempre, todas elas enganosas e aldrabadas, todas elas desmascaradas pela realidade.
“Douradinhos é bom, mas é pouco.”
Há pouco mais de um ano, na fila do supermercado, o homem à minha frente, acompanhado da sua filha, passou várias embalagens de arroz como compra. Aliás, tanto quanto me recordo, arroz foi tudo quanto comprou, juntamente com um qualquer enlatado de conserva. Era assim que se alimentava.
Hoje, no supermercado da Bela Vista, em Setúbal, uma mãe com duas filhas só comprou quatro embalagens de congelados. Uma de rissóis, uma de croquetes, duas de pastéis. A conta foi 10 euros e uns cêntimos, dois contos e qualquer coisa. A mulher pagou com uma nota e umas moedas. Estavam contadas.
São os bolseiros que voltam à rua!
Os anos passam e o edificado de glória à precariedade conta cada vez com mais empenas cegas à realidade em que os trabalhadores do Sistema Científico e Tecnológico Nacional se encontram.
De cativação em cativação os cofres enchem e os bolseiros aguentam, sem mais nenhuma razão que a política feita para o tratado orçamental e para a dívida o investimento em ciência é adiado para as calendas. É mais um concurso atrasado que suspende a vida de milhares de candidatos a uma bolsa de investigação para doutoramento e pós-doutoramento, lançando-os na inotropia de quem já está exclusivo para ser elegível e continua a esperar para saber com o que pode contar.
O delírio “europeu”
O parlamento europeu discutiu recentemente uma resolução sobre medidas a adoptar pela “Europa” (leia-se, pela União Europeia) contra alegada propaganda russa contra “os valores europeus” e “a democracia liberal”. Num debate feito à sombra do progressivo colapso “da Europa”, uma boa parte dos eurodeputados optaram por justificar a desconstrução em curso da União Europeia com um dedo apontado aos inimigos externos, com a Rússia em primeiro plano.
As Vénias da República
Marcelo, uma vez mais, não se conteve. Aliás, Marcelo nunca se contém. O seu conservadorismo, a sua idiossincrasia, o peso da formatação rígida de outros tempos há-de sempre sobrepor-se ao dever institucional. A sua fé, as suas paixões, os seus ídolos, tudo isso legítimo, mas tudo isso muito inapropriado e muito desenquadrado quando se é investido num papel para o qual se teve tempo e mais que tempo para se preparar. Pode considerar-se pura e insignificante minudência o gesto reverencial de Marcelo perante a rainha do Reino Unido e retratado pelas câmaras fotográficas de todo o mundo. Contudo, e especialmente no que diz respeito a Marcelo Rebelo de Sousa, por vezes é bem mais substancial e revelador um gesto, por simples que seja, do que o débito de um chorrilho de palavras a um qualquer microfone ou câmara de televisão.