Todos os artigos: Internacional

A ameaça comunista e o revisionismo histórico – entre o Tiktok, o 25 de Abril e “Holodomor”

Três coordenadas exemplares

1) “Sabe de outros empregados da ByteDance [empresa chinesa de tecnologia que detém o TikTok] que façam parte do Partido Comunista Chinês?” pergunta, pleno de hostilidade, Dan Crenshaw, congressista representante do Estado do Texas, a um visivelmente incrédulo Shou Chew, CEO do TikTok, durante a audiência congressional estadunidense ocorrida no final do passado mês de Fevereiro.

2) “Não podemos esquecer que a Primavera de Abril só é possível porque o Outono de Novembro impediu males maiores”, “A corrupção não era tolerada nem se conhecem episódios antes do regime democrático,” proferem os deputados municipais da IL e CH, respectivamente, no passado dia 25 de Abril em sessão solene na cidade de Setúbal.

3) “Este horror teve a sua origem no Kremlin – aí, o ditador tomou a cruel decisão de promover a colectivização forçada e provocar a fome”, afirma Robin Wagner, deputado dos Verdes (partido da coligação no poder) a propósito da resolução aprovada no Parlamento Alemão, a 30 de Novembro de 2022, instituindo “Holodomor” como genocídio.

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Huele a comisiones obreras

Na pedra secular do castelo está fixado um quadro que honra Hernán Cortés, conquistador divinamente destacado entre os povos mesoamericanos que o circundam em meia mesura, denunciando o classismo da coisa, afinal matar em nome de deus, da pátria e do rei, era tão legítimo e dignificante como o é hoje em nome do imperialismo, do capital e da urbanidade ocidental. O sol vai-se pousando por detrás das ameias do castelo medieval raiano, purpureando o céu à exacta medida com que as gravatas deslaçam a tempos o frouxo nó da noção, o dia foi longo e ao calor deu-se combate com gelo emagrecendo entre o álcool. As horas prazenteiras despertam com a história de um companheiro, vindo de uma ida aos sanitários, “saiu um dizendo que cheirava a merda e outro afirmou: – huele a comisiones obreras”.

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Visitar o jardim no fogo de Odessa

Uma delegação da Assembleia da República chegou ontem a Kiev para uma visita à capital ucraniana. Entre os participantes está Isabel Pires, deputada do Bloco de Esquerda, que referiu à RTP3 qualquer coisa como “o parlamento [português] tem trabalhado envidado os seus esforços numa solução para a paz”, sem, no entanto, referir quais. Percebe-se. Em 2016, o Bloco de Esquerda recusou integrar uma delegação que acompanharia o Presidente da República a Cuba. O motivo apontado foi a coincidência de datas das jornadas parlamentares, que que teriam lugar na mesma altura. O BE tinha então 19 deputados. Hoje, na Ucrânia, tem a companhia de PS, PSD e IL. Estes últimos, hoje, não devem ser os radicais protofascistas neoliberais que eram no dia 1 de Maio.

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A Estupidificação como Projecto Político do Capital

É inegável a força transformadora da palavra, do argumento e do diálogo. É ela o motor revolucionário da formação, do conhecimento e do progresso. Seria interessante se à semelhança da Lista Vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) para fauna e flora, tivéssemos tal ferramenta para entender o estado de conservação de palavras e, sobretudo, dos conceitos que por entre elas se alevantam, no centro do discurso e da intervenção política.

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Os bois e os nomes

As cenas vistas em Brasília, depois de uma marcha de fascistas devidamente enquadrada pelas autoridades policiais, são o resultado da ascensão e reorganização da extrema-direita, a sua normalização, e falsas equivalências entre extrema-direita e tudo o que não seja extrema-direita. Convém recordar que Lula não é comunista, não é um radical de esquerda e será no máximo, e com muito boa vontade, um social-democrata progressista. Mas é um antifascista pelo que, de acordo com a lógica dominante atual, é um radical tão mau como os fascistas, mesmo tendo gente de direita no governo recém-nomeado. O sucedido merece um olhar, ainda que breve, sobre as várias dimensões da questão brasileira, que se estende a outros países um pouco por todo o mundo.

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Em Cuba não se aluga a barriga de ninguém

Enquanto em Itália se votava para eleger o primeiro governo de extrema-direita desde Mussolini, na pequena ilha no meio do Atlântico que todos os dias nos dá 10 a 0, votava-se, 24 rascunhos depois, um referendo de amor e democracia, ou o novo Código das Famílias que, por sinal, é o mais progressista que o mundo já viu, e cuja redacção contou com o contributo de cerca de 70% do eleitorado. Entretanto, continua claro qual destes países é, para o ocidente, uma democracia, e qual deles é uma ditadura.

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Do Ribeiro ambiental ao esgoto a céu aberto

Desde o início da invasão russa da Ucrânia, vieram a público alguns especialistas instantâneos em diversas áreas: relações internacionais, geopolítica, geoestratégia, história, resolução de conflitos, estratégia militar, entre outros. E não estou a falar dos comentadores residentes nos diversos media, os tudólogos, que tanto têm opinião e sabedoria para disseminar sobre política internacional ou o melhor esquema tático do Benfica, a morte da rainha de Inglaterra ou a localização do novo aeroporto de Lisboa. Esta sabedoria, de quem veio ao mundo para nos iluminar, aos comuns mortais, é sancionada pelos jornalistas que os acompanham, sem que exerçam o seu dever de contraditório que, de tempos a tempos e dependendo dos convidados, exercem com veemência.

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